Casa Branca monta estratégia para influenciar escolha do próximo pontífice e coloca o conservador Brian Burch como peça-chave da ofensiva diplomática, publicou o site Conexão Política
A morte do papa Francisco abriu uma disputa política silenciosa, mas intensa, pelos rumos do Vaticano. Com o trono de Pedro vago, o governo dos Estados Unidos, sob comando de Donald Trump, intensificou nos bastidores uma operação para influenciar o conclave e garantir a eleição de um papa alinhado aos valores conservadores e à agenda cultural do trumpismo.
Desde antes da morte de Francisco, Trump já havia transformado a sucessão papal em uma prioridade estratégica, como já havia antecipado o Conexão Política em dezembro do ano passado. O movimento ganhou força com a escolha de Brian Burch — presidente da CatholicVote e crítico ferrenho do papa — como embaixador dos EUA na Santa Sé. No Vaticano, a nomeação foi interpretada como um gesto de hostilidade direta, escancarando a tentativa de ingerência americana no processo de sucessão.
Burch, que omitiu qualquer menção a Francisco ao assumir o posto, vem sendo descrito como peça central da operação. "Estou comprometido em trabalhar com líderes dentro do Vaticano e com a nova administração para promover a dignidade de todas as pessoas e o bem comum", afirmou, em tom diplomático, mas com alinhamento claro à Casa Branca.
A investida do trumpismo
![]() |
Foto: C1/Conexão Política |
A meta da administração Trump é clara: eleger um papa conservador, preferencialmente americano, com forte resistência às reformas promovidas por Francisco em temas como imigração, direitos LGBTQ, moral sexual, descentralização e flexibilizações doutrinárias. O nome que circula com força entre aliados do presidente é o do cardeal Raymond Burke, já afastado por Francisco, mas ainda influente em Roma. Ele se opõe frontalmente à atual orientação da Igreja e representa o setor ultraconservador que Trump deseja ver no comando do Vaticano.
O cálculo político da Casa Branca é que um papa alinhado à sua agenda reforçaria globalmente a legitimidade de políticas internas e externas do governo americano — incluindo o endurecimento migratório, a pauta antiaborto, a oposição ao movimento LGBT e a defesa de valores religiosos tradicionais. A Igreja, nesse quesito, voltaria a ser um instrumento diplomático da nova ordem cultural defendida por Trump.
Nos bastidores, a CatholicVote tem sido determinante. Desde 2009, a entidade destinou US$ 2 milhões a campanhas republicanas e, em 2024, mobilizou com sucesso o voto católico, garantindo a Trump a maior vantagem entre católicos da história recente — 20 pontos percentuais. A entidade também atuou com Steve Bannon para rastrear dados de celulares de fiéis nas igrejas, enviando mensagens de mobilização eleitoral.
Líderes-chave na linha de frente
![]() |
Foto: C1/Conexão Política |
A articulação ainda inclui nomes estratégicos dentro do governo: o vice-presidente JD Vance, a porta-voz Karoline Leavitt, o "czar das fronteiras" Tom Homam, além de Elise Stefanik (embaixadora na ONU), Marco Rubio (Departamento de Estado), Robert F. Kennedy Jr. (Saúde), Linda McMahon (Educação), Sean Duffy (Transporte) e o diretor da CIA, John Ratcliffe. Todos católicos, todos alinhados à ala mais dura do trumpismo.
A Casa Branca também cortou repasses a entidades vinculadas ao Vaticano e intensificou pressões internas. Como reação, ainda em vida, Francisco tentou conter o avanço dessa ofensiva. Nomeou o cardeal Roberto McElroy — crítico da política migratória de Trump — para liderar a arquidiocese de Washington DC, e enviou carta dura aos bispos americanos denunciando as deportações em massa.
As respostas do entorno de Trump vieram à altura. Tom Homam recomendou ao papa "cuidar da própria instituição" e JD Vance declarou que Francisco "precisava se olhar no espelho". Agora, com a cadeira de Pedro vaga, o confronto entra em sua fase decisiva.
O conclave se tornou o novo front da guerra cultural travada por Trump. Com respaldo político, estrutura organizada e presença forte em Roma, a Casa Branca tenta transformar a sucessão papal em mais uma conquista da nova ordem conservadora global. Para o trumpismo, não basta governar os Estados Unidos: é preciso, também, influenciar quem falará em nome de Deus.
0 Comentários