Bolsonaro deve estar volta à ativa somente no segundo semestre, publicou a Gazeta do Povo
Segundo analistas políticos, o período de convalescença de Bolsonaro promete afetar a intensa agenda que ele vinha cumprindo pelo Brasil em defesa do Projeto de Lei da Anistia e antes de ser julgado pelo suposto golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de o julgamento ainda não ter uma data marcada, a expectativa de analistas e de ministros da própria Corte é que ocorra ainda neste ano.
Para o cientista político Juan Arruda, a exigência de uma recuperação prolongada de Jair Bolsonaro, especialmente por mantê-lo distante de articulações presenciais, pode ter efeitos relevantes sobre a tramitação e o fôlego político do PL da Anistia.
"Embora ele ainda exerça influência simbólica nas bases e nas redes, sua ausência física em Brasília dificulta o engajamento direto com parlamentares — algo que sempre foi uma das principais armas do ex-presidente na hora de pressionar por pautas de seu interesse. Esse distanciamento pode abrir espaço para a fragmentação de apoios, tanto dentro do PL quanto no campo mais amplo da direita, que já vive disputas internas", afirma.
Além disso, afirma o especialista, o cenário atual indica que, sem sua presença ativa, cresce o protagonismo de outras lideranças do campo conservador, o que pode tornar a articulação pelo PL da Anistia mais dispersa ou menos coordenada.
O próprio Jair Bolsonaro, que está na UTI, usou as redes sociais nesta segunda (14) para falar que terá uma recuperação gradativa e que não há uma data precisa para a alta médica. Segundo o corpo clínico que o operou, comandado pelo médico Cláudio Birolini, a necessidade de uma nova intervenção ocorreu em decorrência e por complicações da facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018 e as inúmeras cirurgias pelas quais foi submetido após o atentado.
Para o advogado André Marsiglia, a agenda pela anistia talvez seja prejudicada, mas ele acredita que Bolsonaro deverá usar mais as redes sociais ou eleja alguém para falar em seu nome, também pensando nas articulações políticas para a eleição presidencial de 2026.
"Muito tem [sido] feito informalmente. Bolsonaro tem influenciado sem necessariamente estar nos palanques, sem necessariamente estar numa corrida eleitoral formal, mas essa recuperação vai afetar a pauta pela anistia e sua agenda antes do julgamento no STF", pondera.
Já o cientista político Murilo Carvalho opina que a recuperação de Bolsonaro vai interromper, temporariamente, sua atuação nas frentes pró-anistia e nas viagens políticas pelo país. "Sem presença física, perde-se parte do capital simbólico que ele vinha mobilizando. Isso tende a enfraquecer a articulação da base antes do julgamento no STF, ainda que ele siga ativo nos bastidores", comenta.
Por outro lado, o advogado e comentarista político Luiz Augusto Módolo avalia que a pauta da anistia, que Bolsonaro vinha defendendo pelo Brasil, será afetada. Pelas projeções, o retorno dele às atividades públicas deve ocorrer em julho e, mesmo assim, pode haver recomendações médicas para que elas sejam mais lentas e menos intensas.
"Bolsonaro não tem mais a mesma liberdade de circular que tinha antes do atentado e as complicações da facada, com uma nova cirurgia, vão lhe tirar das atividades públicas que vinha conduzindo". Essa foi a sexta cirurgia relacionada ao atentado de 2018 e a nona vez que Bolsoanro precisou ficar internado por complicações decorrentes da facada.
Bolsonaro deve estar volta à ativa somente no segundo semestre
A informação que Bolsonaro terá uma recuperação lenta foi dada pelo cirurgião Cláudio Birolini durante uma coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (14). Se as recomendações se cumprirem e forem seguidas pelo ex-presidente, Bolsonaro só estaria de volta às atividades e agendas políticas no próximo semestre.
Ele estava em uma dessas agendas no Rio Grande do Norte quando passou mal na sexta-feira passada. O Nordeste estava na pauta neste momento nas atividades públicas articuladas pelo PL.
Segundo o médico Cláudio Birolini, o quadro de Bolsonaro já vinha se agravando nos últimos meses com relatos de dores e desconfortos. "O procedimento [cirúrgico] foi bastante complexo e bastante trabalhoso com indícios que já vinha com quadro [de dores e complicações] há alguns meses", descreveu o cirurgião.
As recomendações médicas neste momento e para as próximas semanas são para que Bolsonaro não fale muito, passe por fisioterapia, leve uma vida menos agitada e receba poucas visitas. A própria ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tem pedido para que aliados não o visitem no hospital.
Ele deve permanecer na UTI por pelo menos 48 horas no pós-operatório, mas seu quadro de recuperação nas primeiras horas após a intervenção evolui bem, segundo o corpo clínico. Ainda não há previsão de quando ele deixe de se alimentar via parenteral e volte a ingerir alimentos sólidos. Mesmo da UTI, Bolsonaro usou sua conta no X nesta segunda para mencionar que a recuperação será gradual e disse não ter previsão de alta.
Ele descreveu que o procedimento foi necessário para "tratar uma obstrução provocada por dobras no intestino delgado". "Segundo os médicos, meu estado de saúde é estável, mas a recuperação exige cuidados intensivos e será gradual [...] No momento ainda não há previsão para minha alta", escreveu Bolsonaro.
Para o deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS), a intercorrência terá reflexos políticos, porque Jair Bolsonaro move multidões por onde anda. "Só ele tem crédito político para reunir a população em torno do tema anistia, vide manifestações do Rio de Janeiro e São Paulo, que serviram de "start" para a obtenção das assinaturas necessárias ao requerimento de urgência", ressalta o parlamentar.
Segundo o deputado, para minimizar os efeitos da falta momentânea de Bolsonaro, os congressistas irão se desdobrar para que o projeto de lei de anistia seja o quanto antes votado e aprovado, "até para homenagear Jair Bolsonaro, que deixou de lado sua saúde para buscar as condições políticas para a aprovação da anistia aos presos políticos".
O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) também avaliou que a ausência, mesmo que momentânea, será sentida e vai impactar a atuação da direita.
"Bolsonaro irá ter seu tempo para se recuperar da saúde, mas a sua presença e voz ecoam nas ruas lotadas pelo povo. O Congresso irá escutar esse clamor dos brasileiros, e responder com coragem: Anistia já!".
O deputado lembrou que a oposição conseguiu o número de assinaturas da urgência para tramitação do PL da Anistia, mas que o PL precisa agora ser pautado e aprovado. "Cabe a nós, no Parlamento, dar voz a esse grito por justiça".
Médico cita "cirurgia definitiva", mas não descarta novos procedimentos
O médico Cláudio Birolini disse esperar que seja uma cirurgia definitiva, mas novas aderências na cavidade abdominal podem se formar e são comuns em pessoas que já passaram por intervenções dessa natureza. "Não se pode falar que está resolvido o problema, mas tentamos oferecer um procedimento definitivo e [Bolsonaro deve] voltar a ter uma vida normal nos próximos dois ou três meses."
A nova complicação em decorrência do atentado sofrido por Bolsonaro em 2018 ocorreu durante um evento político na manhã de sexta-feira (11), no Rio Grande do Norte.
Jair Bolsonaro relatou a interlocutores que sentia dores abdominais mais intensas e foi atendido em um hospital em Santa Cruz, a cerca de 115 km de Natal, mas o quadro de dor vinha se intensificando nas últimas semanas. Ele acabou transferido para Brasília quando foi identificado um quadro de distensão abdominal.
A equipe médica demonstrou preocupação com sinais de agravamento do quadro e ele foi transferido, ainda no sábado, com uma UTI aérea, para o hospital em Brasília onde estava em um primeiro momento em observação. Naquele momento se descartou a realização de procedimento cirúrgico, mas, como o quadro de recuperação não evoluiu com medicamentos, os médicos anunciaram no sábado que ele seria operado no domingo e que se trataria de um procedimento bastante demorado e complexo.
Ainda no fim de semana, o médico Cláudio Birolini disse que da maneira como Bolsonaro chegou à unidade médica – com um quadro de desidratação, muita dor e distensão abdominal – dava para se afirmar "com alguma segurança que esse foi o quadro mais exuberante em relação aos quadros anteriores que ele apresentou".
Entenda a cirurgia de Bolsonaro
A laparotomia exploradora, feita no ex-presidente Jair Bolsonaro, é uma cirurgia realizada com anestesia geral para abrir o abdômen e examinar os órgãos internos. O objetivo, no caso dele, foi liberar aderências intestinais referentes a cicatrizações internas que "colam" partes do intestino e reconstruir a parede abdominal, devido a complicações geradas pelas múltiplas cirurgias após a facada sofrida em 2018.
A cirurgia de Bolsonaro tratou de um quadro de subobstrução intestinal, em que a passagem de alimentos e líquidos pelo intestino está parcialmente bloqueada. Esse tipo de problema é comum em quem já passou por várias cirurgias abdominais.
O procedimento durou cerca de 12 horas e, apesar da recuperação lenta, com um pós-operatório delicado e prolongado de acordo com os médicos, foi considerado um sucesso, sem intercorrências ou necessidade de transfusão.
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