A embaixada israelense em Londres, por sua vez, em comunicado, afirmou que seu país "não permitirá a entrada de indivíduos ou entidades que atuem contra o Estado e seus cidadãos"
Duas parlamentares britânicas tiveram sua entrada em Israel barrada no sábado (5) e posteriormente foram deportadas. Segundo informações da BBC, Abtisam Mohamed e Yuan Yang foram acusadas de "espalhar discurso de ódio" e se disseram "surpresas".
A intenção da viagem era visitar a Cisjordânia, alegando que era "vital" que ambas, enquanto parlamentares, pudessem testemunhar a situação do território.
Elas afirmaram que a viagem foi organizada com instituições de caridade do Reino Unido que têm "mais de uma década de experiência em levar delegações parlamentares".
"Somos duas, entre dezenas de deputadas e deputados, que se manifestaram no Parlamento nos últimos meses sobre o conflito Israel-Palestina e a importância de cumprir o direito humanitário internacional", disseram as deputadas em um comunicado conjunto.
"Parlamentares devem se sentir livres para falar a verdade na Câmara dos Comuns [Parlamento britânico], sem medo de serem alvo de retaliações", completou o comunicado.
Reações
David Lammy, secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, criticou a postura israelense, alegando que o ato de barrar as parlamentares é "inaceitável, contraproducente e profundamente preocupante".
Além disso, Lammy disse "aos meus colegas no governo israelense que essa não é a forma de tratar parlamentares britânicos" e que entrou em contato com Mohamed e Yang para oferecer apoio.
Já Kemi Badenoch, líder do Partido Conservador, afirmou que Israel tem o "direito de controlar suas fronteiras" e que "é muito importante que respeitemos outros países ao aplicarem o controle de suas fronteiras".
As parlamentares foram à viagem acompanhadas de assessores.
A imigração israelense afirmou que Moshe Arbel, ministro do Interior de Israel, negou a entrada dos quatro passageiros após um interrogatório. Segundo ele, a viagem dos britânicos tinha objetivo de "documentar as forças de segurança".
A embaixada israelense em Londres, por sua vez, em comunicado, afirmou que seu país "não permitirá a entrada de indivíduos ou entidades que atuem contra o Estado e seus cidadãos".
Além disso, a embaixada acusou Abtisam Mohamed e Yuan Yang de estarem "ativamente envolvidas na promoção de sanções contra ministros israelenses" e que ambas haviam "acusado Israel de declarações falsas".
A nota da embaixada israelense também dizia que as parlamentares buscavam boicotar o país "em um momento em que Israel está em guerra e sob ataque em sete frentes".
Por fim, a embaixada alegou que "foram oferecidas acomodações em hotel, o que elas recusaram", e que o custo do voo de retorno ao Reino Unido foi coberto.
O Conselho para a Compreensão Árabe-Britânica e a Medical Aid for Palestinians – esta última uma instituição de caridade registrada no Reino Unido – disseram em comunicado conjunto que organizaram a viagem e que a "visita fazia parte desse programa de longa data".
"Durante o interrogatório, o grupo foi claro, aberto e transparente sobre os objetivos da visita, que incluía a visita a diversos projetos conduzidos por organizações humanitárias e de desenvolvimento que atuam na Cisjordânia. O grupo havia informado o cônsul-geral britânico em Jerusalém sobre a visita e planejava encontrá-lo como parte do itinerário."
Posições contra Israel a acusação de "limpeza étnica"
Eleitas em 2024 pela primeira vez, ambas as parlamentares são ativas em temas relacionados ao conflito entre Israel e Hamas.
Em fevereiro, Mohamed liderou uma campanha com diversos partidos que contou com uma carta assinada por 61 deputados e lordes, pedindo a proibição de produtos vindos de assentamentos israelenses, citando um parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
No Parlamento britânico, ela também criticou o governo israelense por reter ajuda humanitária em Gaza, afirmando, em outubro do ano passado, que o direito internacional "proíbe a fome de civis como método de guerra", e mencionou alegações de organizações humanitárias sobre "limpeza étnica".
Já Yang, em janeiro deste ano, se posicionou a respeito de sanções contra os ministros israelenses Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, após ambos sugerirem a construção de assentamentos israelenses no norte de Gaza.
Ela também alegou condições perigosas enfrentadas por jornalistas e profissionais de saúde no território palestino.
Emily Thornberry, presidente trabalhista do Comitê de Assuntos Estrangeiros da Câmara dos Comuns, descreveu Yang e Mohamed como "parlamentares altamente respeitadas" e "potenciais líderes" e afirmou que "Israel está sendo mal orientado ao tentar aliená-las, humilhá-las e tratá-las dessa forma".
"Acho que isso é um insulto ao Reino Unido e acho que é um insulto ao Parlamento", disparou.
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