Papa Francisco morre aos 88 anos

(Foto: EFE/EPA/ETTORE FERRARI)

Morre Francisco, o primeiro papa latino-americano, que desejava uma "Igreja em saída"

O Vaticano anunciou, na madrugada deste 21 de abril (5h35 do horário de Brasília), a morte do papa Francisco.

"Às 7h35 desta manhã [horário no Vaticano], o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino", anunciou Sua Eminência cardeal camerlengo Kevin Farrell.

O pontífice estava desde o início do ano com a saúde fragilizada por complicações respiratórias e ficou cerca de 40 dias hospitalizado para tratar um pneumonia bilateral, mas retornou para casa no fim de março. Durante a Páscoa, Francisco chegou a circular pela Praça de São Pedro de papamóvel, mas seu quadro de saúde era considerado novamente crítico no domingo. Os médicos que o acompanhavam disseram se tratar de um cenário delicado, acreditando agora se tratar de seu último adeus aos fiéis.

O papa enfrentava dificuldades respiratórias desde a juventude. Aos 21 anos teve o lobo superior do pulmão direito removido após uma pneumonia grave. O pastor que desde o primeiro dia de seu pontificado costumava encerrar suas reuniões e homilias pedindo "rezem por mim", recebe agora a prece dos fiéis do mundo inteiro que se despedem dele, 12 anos depois de sua eleição para suceder Pedro no comando da Igreja.

Francisco foi o papa do diálogo, da "Igreja em saída", das "periferias do mundo", mas também um papa de controvérsias, o primeiro a enfrentar um mundo plenamente conectado pela internet e, portanto, com uma exposição midiática muito maior que seus antecessores.  

Sua visão do que significa o papado poderia ser percebida muito tempo antes, quando em 2001, os jornalistas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin entrevistaram-no para uma biografia daquele que era então Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio. Respondendo à pergunta "qual deveria ser o perfil do próximo papa?", Bergoglio afirmou: "um pastor".

Essa história é contada no prefácio do livro "El Pastor", lançado em fevereiro de 2023 na Argentina, sem edição brasileira (a edição em português, das Paulinas, está disponível apenas em Portugal). Na sequência do livro, já se pronunciando como papa Francisco, afirmou: "Difícil imaginar, naquele momento, que doze anos depois me converteria nesse pastor: aquele que deve estar na frente do povo para indicar o caminho, em meio ao povo para viver sua experiência, atrás dele para ajudar os que ficaram de lado e, às vezes, respeitar sua intuição para buscar os melhores pastos".

De fato, Bergoglio não parecia estar com o pensamento em Roma. No Natal anterior à renúncia de Bento XVI, ele estava se preparando para entregar o Arcebispado de Buenos Aires e iria se recolher em um dormitório no bairro portenho de Flores, "um quarto modesto, com uma escrivaninha, um armário e uma cama de madeira com colchão duro", dizem os autores. Foi neste bairro que descobriu sua vocação religiosa, depois de uma confissão iluminadora, também foi onde abraçou "sua paixão futebolística pelo San Lorenzo e começou a gostar de tango e ópera". 

Antes de se tornar o primeiro papa latino-americano, e também o primeiro jesuíta, Bergoglio havia sido nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires pelo papa São João Paulo II, em maio de 1992, escolhendo como lema Miserando atque eligendo [tirado de uma homilia de São Beda o Venerável, citando o episódio evangélico da vocação de são Mateus, que em tradução livre significa "Olhou-o com misericórdia e o escolheu"], lema que levou também para seu pontificado 21 anos depois. 

Esse parece ser um traço permanente de sua vida pastoral. Corrobora para isso que em 2015, o papa Francisco deu início ao Jubileu Extraordinário da Misericórdia, por ocasião do 50º aniversário do Concílio Vaticano II.

Na Igreja Católica, o Jubileu é o ano de remissão dos pecados, reconciliação, conversão e penitência sacramental, e ordinariamente ocorre de 25 em 25 anos. O último jubileu ordinário havia sido o de 2000, proclamado "no limiar do terceiro milênio" por São João Paulo II. Neste ano de 2025, a Igreja vive o Jubileu da Esperança, inaugurado por Francisco na última noite de Natal. O fim da peregrinação do papa neste mundo em pleno ano da esperança é profundamente simbólico para os católicos.  

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