Políticas de Trump podem quebrar bolsa americana em 2030, diz Nobel de Economia

Elon Musk e Donald Trump diante da Casa Branca, em 11 de março. (Foto: Samuel Corum/EFE/EPA/Pool)

"A economia dos EUA depende de inovação e ela depende do Estado de Direito e de outras características institucionais"


O economista e professor do MIT Daron Acemoglu, um dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2024 e coautor de Por que as nações fracassam e Poder e progresso, afirmou, em entrevista ao Broadcast, do jornal O Estado de S.Paulo, que os Estados Unidos estão vivendo um "capitalismo de compadres" e que o mercado de ações norte-americano pode sofrer um colapso em 2030 relativo a deficiências na inovação. "A economia dos EUA depende de inovação e ela depende do Estado de Direito e de outras características institucionais. Se você danifica estas instituições, isto prejudicará a vitalidade da economia americana", afirmou Acemoglu ao Estadão.

No "capitalismo de compadres", as empresas alinhadas com o governo costumam receber vantagens; um episódio recente no Brasil foi o da política de "campeões nacionais" instituída em governos anteriores do PT, beneficiando companhias como a Oi e empresários como os irmãos Wesley e Joesley Batista – que voltaram recentemente ao noticiário em um caso de suposto favorecimento na aquisição de empresas de energia. "As empresas que são favorecidas pelo Presidente [Donald Trump] recebem tratamentos e contratos especiais, regulação muito mais leve e apoio do governo. E aqueles que criticam ou lançam uma luz nesta corrupção são processados por um agressivo Departamento de Justiça ou o FBI", afirmou Acemoglu ao Estadão.

Esse tipo de favorecimento tem consequências no médio prazo, segundo o Nobel de Economia. "O mercado de ações começará a valorizar inicialmente as empresas favorecidas pela administração. Mas, se essas companhias não cumprirem as suas promessas de inovação, isso também pode criar instabilidade no mercado de ações", disse Acemoglu. Isso porque "grande parte da valuation das empresas de tecnologia é baseada em promessas", e o economista usou como exemplo a Tesla, de Elon Musk, hoje o empresário mais próximo de Trump; o preço das ações da companhia, diz Acemoglu, "não está em linha com a venda de carros produzidos. É tudo uma questão de aposta na tecnologia da empresa e na sua aposta em IA" – o mesmo ocorre com outras empresas de tecnologia, com o risco de vermos algo parecido com o estouro da "bolha da internet", no início do século.

Protecionismo e outras medidas afetam credibilidade dos EUA entre parceiros

Acemoglu
ainda alertou para o fato de o protecionismo adotado por Trump e sua atuação na tentativa de conseguir um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia afetarem a reputação dos Estados Unidos entre antigos aliados, além de terem consequências de médio prazo dentro dos próprios EUA. "Tarifas em aliados vão prejudicar a economia dos EUA por causa das cadeias de produção (...) o fato de que ele está adotando tarifas e criando problemas [no comércio exterior] pode elevar o valor do dólar no curto prazo, mas a dor ocorrerá no médio prazo", disse o economia ao Estadão.

A maneira como Trump tem se relacionado com os aliados europeus, e sua postura nas negociações sobre a guerra na Ucrânia, vista como mais leniente em relação a Vladimir Putin, enquanto Volodymyr Zelensky é tratado com severidade, também deve ter consequências, segundo o Nobel de Economia. "Os EUA estão ameaçando seus aliados estratégicos e econômicos. Haverá algumas resistências e conciliações. (...) Certamente, os europeus ficarão menos seguros para realizar seus investimentos nos EUA. Isto não terá um efeito imediato, mas terá no médio prazo. Uma vez que os EUA não são vistos mais como um porto seguro, as pessoas olharão para alternativas", disse Acemoglu.

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