Como a Arábia Saudita se tornou sede das negociações de paz

O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o ministro da Defesa da Arábia Saudita, Príncipe Khalid bin Salman, no Departamento de Estado em Washington, DC, em fevereiro (Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW)

Nos últimos anos, a Arábia Saudita vem realinhando sua política externa em direção a uma neutralidade em conflitos globais, a fim de alcançar o plano visionário de
 Salman, a "Visão 2030", que busca diversificar a economia saudita para além do petróleo


Representantes de alto escalão de países envolvidos em um dos conflitos de maior interesse no mundo se reuniram no Oriente Médio, nos últimos dias, na tentativa de encontrar uma solução para a guerra da Ucrânia.

O país escolhido para sediar as conversas foi a Arábia Saudita, um aliado muito próximo do novo governo de Washington, que vem sinalizando interesse em ganhar maior notoriedade internacional para além de suas construções arquitetônicas chamativas.

No último dia 10, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se dirigiu ao país para uma reunião com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, na cidade saudita de Jeddah. No dia seguinte, foram iniciadas as negociações entre as delegações americanas e de Kiev que resultaram na aceitação de Zelensky de uma trégua de 30 dias com a Rússia.

No entanto, nesta quinta-feira (13), o ditador Vladimir Putin colocou novos obstáculos para a implementação do acordo de cessar-fogo, apesar de declarar que "está aberto" a negociá-lo.

A sugestão de entrada da Arábia Saudita na mediação começou a virar realidade no mês passado, em meio ao turbulento encontro de Zelensky e Donald Trump no Salão Oval.

Um dos motivos que colocou o país árabe em evidência é a boa relação com os EUA e com a Rússia, o outro lado do conflito que tem apresentado diversas exigências para a realização da trégua.

Na ocasião, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o local escolhido para negociar a guerra era um que "geralmente convém" a Moscou e Washington, o que indiretamente gera benefícios para o príncipe herdeiro saudita em seu plano de ampliar a visibilidade do país no cenário global.

Num primeiro momento, as negociações com as diplomacias americana e russa ignoraram o lado ucraniano, levantando um alerta de Kiev e da Europa de que um dos lados do conflito não iria participar das conversas de paz. Agora, a Ucrânia sentou à mesa de negociação e caminha-se para uma proposta que atenda as duas partes da guerra.

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman surge nesse contexto como uma personalidade que pode ser beneficiada no acordo, devido a sua proximidade com Trump e Putin.

Em janeiro, logo depois da posse, Trump fez seu primeiro contato internacional justamente com a Arábia Saudita. Na ocasião, Salman deixou clara sua intenção de investir US$ 600 bilhões nos EUA nos próximos quatro anos, algo que o presidente americano viu de forma positiva.

Por outro lado, a Arábia Saudita possui laços de longa data com Putin. Nos últimos anos, Moscou e Riad firmaram uma forte parceria por meio do acordo de produção de petróleo OPEP+. Em 2018, durante a abertura da Copa do Mundo, o príncipe herdeiro foi selecionado como um convidado de honra do ditador russo em Moscou.

Esse cenário mostra que a Arábia Saudita se tornou um país de confiança das potências envolvidas nas negociações de paz na Ucrânia, contribuindo para firmar a influência do príncipe herdeiro saudita em assuntos de política internacional, ampliando seu poder baseado na riqueza já conhecida.

Nos últimos anos, a Arábia Saudita vem realinhando sua política externa em direção a uma neutralidade em conflitos globais, a fim de alcançar o plano visionário de Salman, a "Visão 2030", que busca diversificar a economia saudita para além do petróleo.

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