Novela do orçamento mostra como Musk busca aumentar influência na administração pública dos EUA

O empresário Elon Musk, ao lado do vice de Trump, J. D. Vance, em comício na Pensilvânia em outubro (Foto: EFE/EPA/WILL OLIVER)

"Vamos superar isso, vamos unificar este país e vamos levar a agenda A América em Primeiro Lugar para as pessoas a partir de janeiro"


O empresário Elon Musk doou US$ 250 milhões para a vitoriosa campanha presidencial do republicano Donald Trump e foi indicado, junto com Vivek Ramaswamy, para liderar o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) na gestão que começa em 20 de janeiro.

Esta semana, entretanto, o dono do X, da SpaceX e da Tesla demonstrou que não pretende restringir a isso a sua atuação nos novos rumos da administração pública dos Estados Unidos.

Na quarta-feira (18), quando estava prestes a ser votada na Câmara uma proposta de orçamento federal que precisava ser aprovada até sexta (21), sob risco de serviços do governo americano serem paralisados, Musk fez uma série de postagens no X contra o projeto, negociado por republicanos e democratas durante meses.

O empresário alegou que a proposta previa gastos supérfluos em excesso e faria muitas concessões aos democratas. "Qualquer membro da Câmara ou do Senado que votar a favor deste projeto orçamentário absurdo merece ser expulso em dois anos!", escreveu numa postagem, se referindo às eleições parlamentares de meio de mandato presidencial de 2026.

Resultado: Trump apoiou Musk e o projeto foi retirado de pauta, o que gerou críticas dos democratas. "Chegamos a um acordo, e um tuíte mudou tudo”, disse o deputado democrata Richard Neal, segundo informações do The Wall Street Journal.

"Você consegue imaginar como serão os próximos dois anos se toda vez que o Congresso chegar a um consenso houver um tuíte de um indivíduo que não tem currículo no serviço público, ameaçando os deputados do lado republicano com uma primária [financiar opositores de parlamentares nas prévias para a eleição legislativa], e eles sucumbirem?", acrescentou.

Deputados alinhados a Musk se empolgaram a ponto de pedirem que o empresário se torne presidente da Câmara dos Estados Unidos. Pelo regimento da casa, o presidente não precisa ser deputado, basta ser um nome escolhido pela maioria do plenário.

"Eu estou aberta a apoiar Elon Musk para presidente da Câmara. O Doge só pode realmente realizar sua missão se controlar o Congresso, para permitir eficiência governamental real. O establishment precisa ser destruído, assim como foi ontem. Este pode ser o caminho", escreveu no X a deputada republicana Marjorie Taylor Greene na quinta-feira (19).

Entretanto, horas depois dessa postagem, veio um banho de água fria. Um orçamento "plano B", este apoiado por Musk, foi a plenário, mas foi rejeitado. Apenas dois democratas votaram a favor da proposta. Entretanto, também houve insatisfação entre os republicanos, já que 38 deputados do partido foram contra o projeto.

Por fim, nesta sexta-feira, de última hora, uma terceira proposta foi aprovada na Câmara e no Senado, evitando a paralisação governamental. Musk ironizou, perguntando antes da votação se o projeto era "republicano ou democrata".

Numa entrevista após a votação na Câmara, o presidente da casa, o republicano Mike Johnson, disse que sugeriu de brincadeira a Musk se ele gostaria de ocupar seu cargo – a eleição para a presidência ocorrerá logo quando a nova legislatura tomar posse, em 3 de janeiro.

"Elon Musk e eu conversamos há cerca de uma hora. Conversamos sobre os desafios extraordinários deste trabalho. Eu disse: 'Ei, você quer ser presidente da Câmara? Não sei'. Ele disse que este deve ser o trabalho mais difícil do mundo. Eu acho que é", disse Johnson, que deixou a questão em aberto e tentou acalmar os ânimos após uma semana tumultuada.

"Vamos superar isso, vamos unificar este país e vamos levar a agenda A América em Primeiro Lugar para as pessoas a partir de janeiro. Mal podemos esperar para começar", afirmou.

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