As urnas apontarão se a histórica rivalidade bipartidária britânica chegou ao fim ou está caminhando para isso
Em 2016, o Reino Unido foi na contramão da Europa continental, ao aprovar num referendo a saída do país da União Europeia (o chamado Brexit). Oito anos depois, parece seguir contrariando a vizinhança: enquanto a direita colhe vitórias nas eleições em outros países europeus, os britânicos indicam que vão tomar o rumo à esquerda nas eleições gerais desta quinta-feira (4).
As pesquisas mais recentes apontam que o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, ostenta cerca de 40% das intenções de voto e deve voltar ao número 10 de Downing Street (residência do premiê britânico) após um hiato de 14 anos.
Os conservadores, do premiê Rishi Sunak, dominam o cenário político do Reino Unido desde 2010, mas estão em crise desde pelo menos 2022, quando o então primeiro-ministro Boris Johnson renunciou devido ao escândalo do Partygate (membros do governo britânico, incluindo o premiê, realizaram festas durante a pandemia de Covid-19, enquanto lockdowns vigoravam no país).
Da saída de Johnson à posse de Sunak, o partido amargou o constrangimento de ter três premiês em menos de dois meses (Liz Truss, eleita na votação interna dos conservadores, renunciou após a reação negativa ao seu plano econômico), e os números ruins da economia do Reino Unido em 2023 mantiveram os tories na berlinda.
Tanto que Sunak decidiu convocar eleições apenas quando os dados econômicos do país tiveram leve melhora, no primeiro trimestre deste ano, e quando sua reforma migratória começou também a apresentar resultados.
Porém, a maré de azar parece continuar acompanhando os conservadores: em junho, o chefe da campanha de Sunak se afastou depois que foi divulgado que ele estava sendo investigado devido à suspeita de ter usado informação privilegiada para fazer apostas sobre a data da eleição (um tipo de aposta popular no Reino Unido).
Para completar, embora algumas pesquisas tenham indicado uma recuperação conservadora nos últimos dias, a legenda corre até mesmo o risco de sequer ser a segunda força no Parlamento britânico, já que o Reforma Reino Unido, partido de direita nacionalista de Nigel Farage, apareceu em alguns levantamentos em junho à frente dos tories.
Na apresentação de um plano anti-imigração ilegal no mês passado, Farage, um dos grandes incentivadores do Brexit e que falhou nas sete tentativas anteriores de ser eleito parlamentar, disse que não tem ilusões de governar o país, mas que a apresentação do seu programa tinha o objetivo de destacar o Reforma Reino Unido como "uma verdadeira oposição a um governo trabalhista".
As urnas apontarão se a histórica rivalidade bipartidária britânica chegou ao fim ou está caminhando para isso.
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