O bloco macronista ficou com 168; a direita nacionalista e seus aliados, 143; e os conservadores de Os Republicanos e os independentes de direita somaram 60
Com a Assembleia Nacional francesa como um quebra-cabeça político e a esquerda na liderança, mas longe de uma maioria absoluta, os partidos estão à procura de um primeiro-ministro capaz de reunir apoio suficiente para governar sem ser derrubado por uma moção de censura.
Boa parte dos deputados da Nova Frente Popular (NFP) eleitos no domingo (7) desfilou pela câmara nesta terça-feira (9) para receber suas credenciais: o Partido Socialista (PS), o mais radical A França Insubmissa (LFI), os ecologistas e o Partido Comunista Francês (PCF).
A coalizão de esquerda tem insistido que o novo primeiro-ministro deve vir de suas fileiras e prometeu apresentar um candidato nesta semana.
No entanto, o grupo enfrenta duas grandes dificuldades: uma interna, devido ao equilíbrio de poder entre seus diferentes componentes para decidir de onde virá o primeiro-ministro; e uma externa, devido à necessidade de reunir apoio para governar e sobreviver a possíveis moções de desconfiança.
A maioria absoluta é de 289 parlamentares, muito distante dos 182 alcançados pela NFP, aos quais poderiam ser acrescentados vários parlamentares independentes de esquerda.
O bloco macronista ficou com 168; a direita nacionalista e seus aliados, 143; e os conservadores de Os Republicanos e os independentes de direita somaram 60. A esses se somam algumas cadeiras para outros partidos menores ou vários independentes.
Neste contexto, a NFP garantiu, por meio do socialista Boris Vallaud (um dos nomes mais citados para liderar o governo), que "muitos" se identificam com as medidas de "urgência social" contidas no programa conjunto que a esquerda apresentou no início da campanha, incluindo os que estão no campo do presidente, Emmanuel Macron.
Em entrevista à BFMTV, Vallaud afirmou nesta terça que "a Nova Frente Popular pode governar para tomar essas medidas", com o apoio de uma Assembleia Nacional que afirmará o espírito de uma "frente republicana" contra a direita nacionalista.
Em sua opinião, as decisões urgentes que a coalizão de esquerda tomaria, como o aumento do salário mínimo ou medidas para melhorar o poder de compra dos franceses, não deveriam provocar uma moção de censura.
Entre os ecologistas, sua secretária nacional, Marine Tondelier, argumentou que é mais importante aprovar o programa do que a questão de quem ocupa qual cargo.
Nomes socialistas como Vallaud e o primeiro secretário, Olivier Faure, têm mais chances de gerar apoio para o cargo de primeiro-ministro do que um candidato do LFI. Mas a NFP enfrenta o dilema de que a maior família na Assembleia é justamente a do LFI.
Rejeição a Mélenchon
No entanto, no campo macronista, é muito grande a resistência em apoiar um governo que inclui, e que ainda poderia ser liderado, pela França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon.
"Não queremos trabalhar com A França Insubmissa, que há anos vem demonstrando que prefere fazer com que a Assembleia não funcione, em vez de fazê-la funcionar. Há forças em todo o espectro político republicano que podem trabalhar juntas", disse nesta terça-feira Roland Lescure, ministro de Estado da Indústria e Energia.
Agnès Panier-Runacher, ministra da Transição Energética, disse que "é muito provável que a coalizão esteja em algum lugar entre a direita razoável e a esquerda responsável".
Vallaud respondeu ao macronismo que os integrantes do A França Insubmissa desistiram de suas candidaturas para favorecer os candidatos macronistas em distritos eleitorais onde a direita de Marine Le Pen estava na liderança.
"Se quisermos unir o país, não podemos excluir", disse o líder do grupo socialista na Assembleia.
Mas Mélenchon é uma figura altamente polêmica mesmo dentro da NFP. E, embora ele mesmo não tenha se descartado definitivamente como primeiro-ministro, prometeu "ser parte da solução e não parte do problema", em uma entrevista à emissora de televisão LCI na noite passada.
No entanto, deixou claro que o LFI apresentará nomes para ocupar Matignon (a residência do primeiro-ministro), como a chefe do grupo na Assembleia, Mathilde Panot, ou o coordenador do partido, Manuel Bompard.
"Exigimos que Emmanuel Macron respeite o voto popular, escolhendo nomear um primeiro-ministro da Nova Frente Popular", insistiu Panot ao chegar à Assembleia nesta terça.
Por sua vez, figuras macronistas da direita conservadora, como o ministro do Interior, Gérald Darmanin, disseram que a escolha deveria ser diferente, mais voltada para a "direita republicana", embora essa parte do arco parlamentar também não consiga obter uma maioria absoluta sem incluir a direita de Le Pen.
Gabriel Attal apresentou nesta segunda (8) sua renúncia do cargo de primeiro-ministro ao presidente da França, Emmanuel Macron, após ver seu grupo perder a maioria relativa com que vinha governando.
No entanto, Macron rejeitou o pedido e o encarregou de permanecer provisoriamente na posição para garantir a estabilidade enquanto um novo governo é formado após as eleições legislativas.
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