Confira quais devem ser agora os principais assuntos do primeiro debate
O atual presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, e seu antecessor e rival na eleição de novembro, o republicano Donald Trump, realizam a partir das 22h (horário de Brasília) desta quinta-feira (27) nos estúdios da emissora CNN em Atlanta, no estado da Geórgia, o primeiro debate da corrida de 2024 pela Casa Branca.
Por ora, apenas outro debate está marcado, em 10 de setembro, organizado pela ABC News.
Biden e Trump repetem o confronto eleitoral de 2020, quando os protestos do movimento Black Lives Matter e a pandemia de Covid-19 eram provavelmente os temas mais importantes do período de campanha. Confira quais devem ser agora os principais assuntos do primeiro debate:
Imigração ilegal
Com a crise econômica, política e social na Venezuela, na Nicarágua e em Cuba, a fronteira sul dos Estados Unidos teve um recorde de flagrantes de pessoas tentando entrar ilegalmente no país no ano fiscal de 2023 (de outubro de 2022 a setembro de 2023): quase 2,5 milhões de registros.
No ano fiscal de 2024, já são quase 1,7 milhão de flagrantes de outubro de 2023 até maio.
Muito criticado pela oposição republicana, que tem apontado incompetência da gestão democrata na fiscalização da fronteira com o México, Biden tem anunciado nessa campanha políticas relativas à migração que vão de medidas mais rígidas a acenos aos migrantes, que na maioria votaram no seu partido nas últimas eleições.
Na semana passada, o presidente anunciou um novo programa que permitirá que mais de meio milhão de migrantes que vivem no país sem status legal regularizem sua situação, medida que beneficiará principalmente pessoas casadas com cidadãos americanos.
Por outro lado, poucas semanas antes, Biden havia imposto uma série de restrições ao acesso a asilo na fronteira.
Trump, que se elegeu em 2016 com uma forte plataforma contra a imigração ilegal, propõe agora planos que vão desde deportações em massa até a construção de grandes centros para deter migrantes sem documentos.
Porém, na semana passada, o republicano prometeu que, se regressar à Casa Branca, concederá residência permanente automática (o famoso "green card") aos imigrantes que se formarem em uma universidade americana.
Economia
Embora a economia dos Estados Unidos esteja apresentando bom ritmo de crescimento e de geração de empregos, a inflação tem sido um grande problema durante a gestão Biden.
Em janeiro de 2021, quando o democrata assumiu a presidência, a inflação acumulada em 12 meses no país foi de 1,4%. Em junho de 2022, atingiu um pico de 9,1%, o que obrigou o Fed, o banco central americano, a promover altas nos juros.
Em maio deste ano, o indicador já foi bem mais baixo, de 3,3%, mas ainda um índice alto para um país acostumado a inflações interanuais na casa dos 2%.
Capacidade de presidir o país
Com gafes de Biden em evidência nas redes sociais, a capacidade dele (aos 81 anos de idade) ou de Trump (78 anos) de comandar o país mais importante do mundo também deve ser tema do debate.
Em maio, o republicano disse que o democrata é "mentalmente incapaz" de ser presidente. Biden tem tentado dar o troco: ele ridicularizou Trump por ter chamado sua esposa, Melania, de "Mercedes" em um evento conservador em fevereiro.
Este mês, Trump disse num evento em Detroit que o adversário deveria fazer um teste cognitivo, mas errou o nome do médico que o submeteu ao exame quando ele era presidente. A campanha de Biden imediatamente destacou o episódio na rede social X.
Problemas judiciais
A eleição presidencial deste ano terá dois componentes inéditos na história política dos Estados Unidos: nunca o filho de um presidente americano em exercício havia sido condenado criminalmente, e nunca um ex-presidente do país havia sido considerado culpado num processo criminal.
Este mês, Hunter Biden, filho do presidente democrata, foi considerado culpado de acusações relacionadas a porte ilegal de arma por um júri de Delaware.
No final de maio, Trump havia sido considerado culpado por um júri em Nova York em 34 acusações de que teria fraudado registros das suas empresas para ocultar um pagamento de US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels, para que ela não revelasse antes da eleição de 2016 um relacionamento que ambos tiveram dez anos antes. As sentenças nos dois casos ainda não foram anunciadas.
Biden e Trump devem explorar acusações de má-conduta no debate desta quinta-feira, mas de maneiras diferentes.
Enquanto o presidente já tem chamado o republicano de "criminoso condenado" nas suas propagandas de campanha (Trump é réu em outros três processos criminais, que não devem ser julgados até a eleição), o republicano minimizou a condenação de Hunter e outro processo, pendente, contra o filho do democrata (Hunter Biden será julgado em setembro na Califórnia, onde foi acusado de não pagar US$ 1,4 milhão em impostos entre 2016 e 2019).
Após a condenação de Hunter em Delaware, a campanha de Trump disse que a família de Biden teria crimes mais graves pelos quais responder, em referência aos negócios no exterior de Hunter na época em que o pai foi vice-presidente (2009-2017). É provável que Trump se concentre nesse ponto no debate desta quinta-feira.
Aborto
A eleição presidencial deste ano nos Estados Unidos será a primeira desde que a Suprema Corte americana derrubou, em 2022, a jurisprudência do caso Roe vs. Wade, de 1973, que havia determinado que os estados americanos não poderiam ter leis vetando o aborto antes da chamada viabilidade (quando o feto tem condições de sobreviver fora do útero, por volta de 24 semanas de gestação).
A decisão do ano retrasado do Supremo americano devolveu aos estados americanos a liberdade de legislar como preferissem sobre o aborto. Dessa forma, muitos estados governados pelos republicanos reativaram ou implementaram leis pró-vida mais rígidas.
Para atrair eleitores pró-aborto, Biden e a vice-presidente Kamala Harris têm tentado responsabilizar Trump pela derrubada de Roe vs. Wade – três juízes da Suprema Corte indicados pelo republicano durante seu mandato (2017-2021) votaram para rever a decisão de 1973.
Em abril, Trump disse que cada estado deve legislar sobre o aborto, deixando implícito que não buscará, caso seja eleito, uma lei nacional sobre o tema.
Movimentos conservadores e pró-vida esperavam que Trump defendesse a adoção de uma lei nacional severa sobre o aborto, mas isso não ocorreu.
Ucrânia
A ajuda militar à Ucrânia na guerra contra a Rússia foi um fator de discordância entre democratas e republicanos.
No início deste mês, em encontro em Paris com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Biden alfinetou a oposição pela demora de vários meses na aprovação de um novo pacote de quase US$ 61 bilhões, que finalmente recebeu aval da Câmara dos EUA em abril, após meses de bloqueio.
"Alguns dos membros muito conservadores [da Câmara dos Representantes] o estavam bloqueando, mas finalmente conseguimos aprová-lo", afirmou Biden.
Anteriormente, o Congresso americano já havia aprovado o envio de US$ 113,4 bilhões de ajuda à Ucrânia para a guerra contra a Rússia.
Porém, a destinação de mais recursos foi travada durante meses por parte da oposição republicana na Câmara (maioria na casa), que questionava o excesso de gastos da gestão Biden e cobrava medidas mais duras para o combate à imigração ilegal na fronteira com o México.
Trump tem falado que, caso volte à Casa Branca, conseguirá rapidamente um acordo para acabar com a guerra na Ucrânia, mas não deu maiores detalhes de como pretende fazer isso.
Israel
A guerra no Oriente Médio, iniciada com os ataques terroristas do Hamas em Israel em outubro do ano passado, é uma questão delicada para Biden.
Ao mesmo tempo em que busca apoiar os israelenses no conflito, é criticado pelo eleitorado jovem progressista, que promoveu grandes protestos anti-Israel em universidades americanas. Trump chamou essas manifestações de "vergonha" e culpou Biden por elas.
Em maio, a Câmara dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei para obrigar o governo Biden a enviar armas pesadas para Israel.
Biden havia sido criticado pelo governo israelense, pela oposição republicana e até por membros do Partido Democrata por ter suspendido o envio de um carregamento de armas ofensivas para Israel, alegando preocupações com a ofensiva terrestre do parceiro em Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza.
A matéria ainda precisa ser apreciada no Senado, onde os democratas têm maioria. Em caso de aprovação, Biden deve vetar a proposta, o que pode lhe gerar mais desgaste.
Desde a semana passada, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, vem criticando Biden publicamente por reter armas para o país aliado, mas a gestão democrata alega que o único carregamento suspenso por ora é o que foi anunciado em maio.
Biden propôs um plano para um cessar-fogo na guerra na Faixa de Gaza, mas tem enfrentado resistência do Hamas.
Embora tenha responsabilizado Netanyahu por não ter tomado medidas necessárias para evitar os ataques do grupo terrorista em outubro, Trump tem reiterado o argumento de que o mundo era mais seguro quando ele era presidente.
"Ocorreu uma invasão horrível, que nunca teria acontecido se eu fosse presidente", afirmou em março à Fox News, dizendo que Israel precisava "acabar com o problema" em Gaza.
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