Calor extremo deixa 550 muçulmanos mortos em peregrinação

Peregrinos muçulmanos usam guarda-sóis para se proteger do sol enquanto chegam para lançar pedras nos pilares no simbólico apedrejamento do diabo, o último rito do hajj anual, em Mina, perto da cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita, terça-feira, 18 de junho de 2024 | Foto AP/Rafiq Maqbool

Religiosos ficam horas sem acesso a comida e água; termômetros na região marcaram 51,8°C

Pelo menos 550 pessoas morreram na Arábia Saudita durante a peregrinação muçulmana a Meca, ou Haji, em razão das temperaturas extremas, de acordo informações de autoridades sauditas divulgadas nesta quarta-feira (19).

Um dos cinco pilares do islamismo, o Haji começou na sexta-feira 15. Os participantes enfrentam temperaturas superiores a 50°C. Aproximadamente 1,8 milhão de muçulmanos participaram da peregrinação deste ano, sendo 1,6 milhão vindos do exterior, segundo organizadores do evento.

Mortes durante o Haji

Segundo dados do necrotério do hospital no bairro de Al-Muaisem, em Meca, pelo menos 323 egípcios morreram durante o Haji. Quase todos devido a complicações relacionadas às altas temperaturas. 

"Todos eles [os egípcios] morreram por causa do calor", exceto um que sofreu ferimentos fatais em meio a uma pequena multidão, relatou um diplomata ao jornal britânico The Guardian.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito informou que o Cairo e as autoridades sauditas iniciaram uma operação de busca para encontrar seus cidadãos desaparecidos durante a peregrinação.


Outros países afetados

Diplomatas afirmam que pelo menos 60 pessoas naturais da Jordânia faleceram, número superior ao dado oficial de 41 mortes divulgado por Amã, capital do país. Outras nações que registraram mortes dos seus cidadãos são Indonésia, Irã e Senegal.

Na segunda-feira 17, os termômetros marcaram 51,8°C na Grande Mesquita de Meca, de acordo com o centro meteorológico nacional saudita. As autoridades recomendaram o uso de sombrinhas, evitar sair nos horários mais quentes e beber muita água.

Medidas de saúde e atendimento médico

Mais de 2 mil peregrinos receberam tratamento médico até o domingo, 16, devido a estresse térmico. As autoridades de saúde também "forneceram consultas virtuais a mais de 5,8 mil peregrinos, principalmente para tratar doenças relacionadas ao calor, permitindo uma intervenção imediata e mitigando o potencial de aumento de casos", informou a Agência de Imprensa Saudita oficial.

Muitos rituais do Haji, incluindo as orações no Monte Arafat, realizadas no sábado, ocorrem ao ar livre, expondo os peregrinos diretamente ao sol.

Peregrinação irregular e riscos

Anualmente, dezenas de milhares de pessoas tentam chegar a Meca por rotas irregulares, por falta de recursos para obter os vistos oficiais do Haji. A peregrinação clandestina coloca muitos muçulmanos em risco durante períodos de calor extremo, pois impede que percorram a rota oficial do Haji, equipada com ar-condicionado.

No Egito, o número de mortos cresceu "exponencialmente" devido à grande quantidade de viagens irregulares, disse um diplomata à agência de notícias AFP

"Os peregrinos irregulares ficaram muito tempo sem comida, água e ar-condicionado", disse um oficial egípcio que supervisiona a missão da peregrinação no país. "Eles morreram de calor, porque a maioria das pessoas não tinha onde se abrigar."

'Ninguém se importa'

Durante os rituais do Hajj, muitos dos corpos dos muçulmanos que morrem de calor e desidratação estão nas ruas. No Twitter/X, os participantes do culto estão compartilhando imagens das cenas que encontram durante a peregrinação a Meca. Segundo eles, "ninguém se importa" com a cena. 

"As pessoas passam por eles e continuam seus rituais, apenas cobrindo o rosto e deixando-os até que as autoridades levem seus cadáveres", disse um usuário da rede social.

Um vídeo que circula no Twitter/X mostra a situação no local, onde corpos ficam pelas ruas:

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