Na próxima semana, Avraham Sinai vai se encontrar com líderes da comunidade judaica brasileira para contar sua história como espião Nascido muçulmano xiita e que se tornou rabino depois de se converter ao judaísmo nos anos 1990, um ex-membro do Hezbollah será um dos que recepcionarão a comitiva de dirigentes comunitários brasileiros que chegou a Israel nesta semana. Avraham Sinai, antes conhecido como Ibrahim Yassin, tem uma longa história de sofrimento e superações. Na reunião que ocorrerá na próxima quinta-feira 23, Sinai contará aos líderes da comunidade, entre eles representantes da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), a sua experiência de conviver ao lado de terroristas. Sinai é tido como uma referência em Israel, por ter, nos anos 70, visto de perto cenas de violência e morte durante a guerra civil do Líbano, entre 1975 e 1990. Nascido em 1964 em uma aldeia xiita no leste do Líbano, Sinai cresceu em um ambiente hostil a Israel, entre as guerras de 1956 e 1967. Na época, o ditador egípcio Gamal AbdelNasserorquestrava um discurso de união de todos os árabes contra a existência do país judaico. Ele inclusive partilhava destas ideias, mas se desiludiu com as ações dos grupos radicais palestinos e com o exército sírio durante a guerra civil libanesa. Já na guerra, sua família se uniu ao lado cristão, como membro do Exército do Sul do Líbano (SLE), ou Exército Lahad, contra milícias islâmicas. As Forças de Defesa de Israel (IDF), a partir de 1982, com a invasão do Líbano, ajudaram o grupo de Sinai a controlar a região. No entanto, além da Organização da Libertação da Palestina, começavam a surgir grupos extremistas, como o Hezbollah. Essa nova peça no xadrez geopolítico local transformou a região em um cenário de guerra ainda mais intensa. Sinai diz que, em um momento de urgência, o exército israelense encaminhou a esposa dele para dar à luz em Haifa, Israel, em meio aos combates no Líbano. O auxílio, porém, não evitou que ele fosse capturado pelo Hezbollah. O hoje rabino conta que foi interrogado sob pesada tortura. Deu respostas que convenceram os terroristas. Libertado, decidiu que iria espionar para as IDF. O The Times of Israel afirma que Sinai queria se vingar da organização. Ele então se juntou ao Hezbollah e subiu nas suas fileiras, ao mesmo tempo em que passava informações a Israel. "Eu ia a pé… até a fronteira israelense… para me encontrar com o pessoal do exército israelense", disse ele. Fuga para Israel e conversão para o judaísmo Em 1997, Sinai conseguiu fugir do Líbano e foi morar em Israel com a mulher e os seus sete filhos (dois morreram assassinados, segundo ele, pelo Hezbollah). Passaram a morar na cidade de Safed, no norte, conhecida por ter uma tradicional casa de estudos judaicos. Ao frequentar o local, conta que passou a admirar temas judaicos, se converteu e, anos depois, tornou-se rabino. Um de seus filhos, Amos, serviu na Brigada Golani das IDFBrigada Golani das IDF. Outro, Haimatuou pela Brigada Givat. "Tenho certeza de que, neste ambiente de terror, há muitas pessoas que desejam fazer o mesmo que Sinai em busca de alguns valores que contrastam com a violência baseada em uma interpretação insana de uma religião", afirma, a Oeste, Nessim Hamaoui, especialista em assuntos judaicos e diretor da revista Kadimah. Foi o caso também de Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas. Ele é autor do livro Filho do Hamas: Um relato impressionante sobre terrorismo, traição, intrigas políticas e escolhas impensáveis, de 2010. Yousef esteve em 2023 no Brasil, para contar o que testemunhou na intimidade do grupo. Agora, Sinai fará o mesmo para os dirigentes comunitários brasileiros. "Ainda eles não são muitos, mas já são em número suficiente para mostrar que há saída para pessoas que desde cedo conviveram com o terror", completa Hamaoui. *Com informações da Revista Oeste
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