Casos de antissemitismo quadruplicaram no Brasil, segundo análise

Brasil registra aumento significativo de antissemitismo | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Índices de análises estão no relatório da Liga Antidifamação e da Universidade de Tel Aviv sobre o antissemitismo global para 2023

O Relatório Anual Mundial sobre Antissemitismo, divulgado pela Universidade de Tel Aviv (TAU) e investigadores da Liga Antidifamação (ADL), revelou que em 2023 ocorreu um aumento significativo em pontos percentuais nas ocorrências de antissemitismo nos países ocidentais, em comparação com 2022.

Após o massacre terrorista do Hamas em 7 de outubro houve um aumento particularmente acentuado no Sul.

"O dia 7 de outubro ajudou a espalhar um incêndio que já estava fora de controle", afirmou o relatório de 146 páginas.

No entanto, nos primeiros nove meses de 2023, antes do início da guerra, também foi registrado um aumento relativo no número de incidentes em muitos países com grandes populações de minorias judaicas, incluindo EUA, Reino Unido, França, Austrália, Itália, México e Brasil.

Brasil figura no relatório

Na América do Sul, dois países se destacam no relatório sobre antissemitismo, e ambos com populações judaicas relevantes. Na Argentina, o número de incidentes aumentou de 427 para 598 enquanto no Brasil o crescimento do racismo aos judeus quadruplicou, indo de 432 para 1.774 casos registrados.

Na França, o número de incidentes antissemitas aumentou de 436 em 2022 para 1.676 em 2023, enquanto o número de agressões físicas subiu de 43 para 85.

No Reino Unido, os incidentes passaram de 1.662 para 4.103, com as agressões físicas subindo de 136 para 266.

Na Alemanha, de 2.639 para 3.614; na África do Sul, de 68 para 207; no México, de 21 para 78; na Holanda, de 69 para 154; na Itália, de 241 para 454; e na Áustria, de 719 para 1.147.

Especialmente na Austrália, foram registrados 622 incidentes antissemitas em outubro e novembro de 2023, em comparação com 79 durante o mesmo período de 2022.

Antes do conflito em Gaza

Apesar dos aumentos dramáticos em 7 de outubro, o relatório destacou que a maioria dos países com grandes minorias judaicas também viu aumentos nos primeiros nove meses de 2023, antes do conflito em Gaza.

Por exemplo, nos EUA, os dados da ADL mostram um aumento significativo de 1.000 para 3.976 incidentes antissemitas de outubro a dezembro de 2022 em comparação com 2023, e um aumento de 2.697 para 3.547 incidentes de janeiro a setembro. No entanto, a Polícia de Nova York relatou uma diminuição nesse período, enquanto a Polícia de Los Angeles registrou um aumento.

Na França, o número de incidentes de janeiro a setembro de 2023 aumentou para 434, em comparação com 329 durante o mesmo período de 2022; na Grã-Bretanha, de 1.270 para 1.404. Na Austrália, foram registrados 371 incidentes entre janeiro e setembro de 2023, comparados com 363 no mesmo período de 2022.

Já na Alemanha e na Áustria, onde são aplicados programas nacionais de combate ao antissemitismo, registaram diminuições.

EUA é um dos destaques

De acordo com o relatório, apenas em Nova York – a cidade com a maior população judaica do mundo – o Departamento de Polícia da cidade (NYPD) registrou 325 crimes de ódio antijudaicos em 2023, em comparação com 261 registrados em 2022.

Em Los Angeles, a polícia registrou 165 atos antissemitas em comparação com 86, e a Polícia de Chicago notificou 50 em comparação com 39.

A Liga Antidifamação registrou 7.523 incidentes em 2023, em comparação com 3.697 em 2022 (e, de acordo com uma definição mais ampla aplicada, registrou 8.873). O número de agressões aumentou de 111 em 2022 para 161 em 2023, enquanto o número de atos de vandalismo denunciados aumentou de 1.288 para 2.106.

Outros países também observaram aumentos significativos no número de ataques antissemitas, conforme relatado pelos dados coletados pelo relatório de agências governamentais, autoridades policiais, organizações judaicas, mídia e pesquisa de campo.

'Liberdade de judeus comprometida'

O professor Uriya Shavit, chefe do Centro para o Estudo do Judaísmo Europeu Contemporâneo e do Instituto Irwin Cotler, afirmou que embora este não seja o ano de 1938, nem mesmo 1933, se as tendências atuais persistirem, a liberdade dos judeus no Ocidente será severamente comprometida. Isso inclui "o uso da estrela de Davi, a frequência às sinagogas e centros comunitários, a educação em escolas judaicas, a participação em clubes judaicos universitários ou mesmo o uso do hebraico".

Shavit acrescentou: "Com ameaças de bomba contra sinagogas se tornando uma ocorrência diária, a existência judaica no Ocidente é forçada a se fortalecer, e quanto mais isso acontece, mais o senso de segurança e normalidade é minado".

"O que a luta contra o antissemitismo precisa agora são esforços concentrados nos centros de disseminação do ódio e a apresentação de metas mensuráveis e alcançáveis. Sobretudo, a realidade em que grandes empresas lucram com a propagação do grande ódio precisa acabar."

E continuou: "A realidade é que Israel, enquanto Estado, tem limitações no que pode fazer pelas comunidades judaicas. Mas mesmo o pouco que pode ser feito não está sendo feito".

"Israel não possui um plano estratégico significativo para combater o antissemitismo que se baseie nas necessidades das comunidades judaicas. As principais contribuições do governo são declarações pomposas e iniciativas esporádicas. A responsabilidade pelo combate ao antissemitismo deveria ser delegada ao Ministério das Relações Exteriores, cujos funcionários são profissionais que conhecem as comunidades judaicas em primeira mão", explicou ele.

Além disso, "o Ministério dos Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo é redundante. Um pequeno exemplo de quão redundante é – alguns meses atrás, observamos em outro relatório que o link fornecido em seu site em inglês para denunciar incidentes antissemitas leva a uma página vazia. Isso virou manchete na mídia. E o que aconteceu?"

"Nada. Ninguém se preocupou em consertar. Ainda leva a uma página vazia. Não há limites para a negligência e a falta de profissionalismo", criticou Shavit.

Para ele, um dos maiores desafios atuais é como mobilizar o apoio para a luta contra o antissemitismo sem torná-lo o definidor da identidade judaica.

Tsunami de ódio

Jonathan Greenblatt
, CEO e diretor nacional da ADL, comentou que "o terrível ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro foi seguido por um tsunami de ódio dirigido às comunidades judaicas em todo o mundo".

"Níveis sem precedentes de antissemitismo surgiram globalmente nas ruas de Londres, Nova York, Paris, Santiago, Joanesburgo e além. O relatório deste ano é incrivelmente alarmante, com níveis de antissemitismo documentados e sem precedentes, incluindo nos EUA, onde 2023 registrou o maior número de incidentes antissemitas já registrados pela ADL", destacou ele.

E acrescentou: "Estamos orgulhosos da parceria com a Universidade de Tel Aviv neste importante relatório anual, que será usado para informar os governos e a sociedade civil e ajudar a combater as tendências antissemitas".

Racismo

Segundo o relatório, "a angústia e o perigo que os judeus enfrentam atualmente não devem ser exagerados".

Os autores também escreveram que "não existe racismo bom e racismo ruim... racismo que pode ser ignorado e racismo que não pode. O racismo dirigido contra grupos considerados socialmente fortes é tão destrutivo como qualquer outra forma de racismo. Nenhuma sociedade pode ser verdadeiramente livre e pacífica se os seus judeus forem sujeitos a intimidação e assédio com base na sua etnia e crenças".

Uma lição importante da guerra de Gaza é que a paz no Oriente 
Médio não será alcançada a menos que o antissemitismo seja firmemente erradicado nas sociedades árabes, continuaram.

"Exigir ações nesse sentido deve se tornar fundamental em todos os futuros processos diplomáticos. A mídia social é a principal ferramenta na proliferação atual do antissemitismo. Permite que malfeitores extremistas espalhem falsidades, difamações e teorias da conspiração sem serem responsabilizados."

E continuam: "Nenhuma melhoria significativa na luta contra o antissemitismo será conseguida, a menos que aqueles que fornecem plataformas para o discurso de ódio sejam obrigados a aplicar discrição editorial responsável, incluindo aquela que impede o abuso das redes sociais por agentes globais do caos".

Eles lembram, que críticas a Israel não é antissemitismo, mas procurar a sua eliminação como lar nacional do povo judeu, inclusive através do falso argumento de que se trata de um empreendimento colonial ilegal, é antissemita.

Finalmente, "os fatos históricos são que a Terra de Israel é a pátria ancestral dos judeus, onde mantiveram uma presença contínua e onde, com a ascensão do sionismo, compraram as terras onde se estabeleceram e lhes foi dado o direito de um estado por uma esmagadora maioria da Assembleia Geral da ONU".

"Aqueles que acreditam que tudo isso não torna Israel, em suas fronteiras reconhecidas, um estado legítimo devem perceber que, a menos que apresentem uma boa explicação do porquê seus critérios histórico-morais se aplicam apenas a Israel, não conseguirão evitar o rótulo que tentam negar", determinou.

A contribuição da TAU para a elaboração do relatório foi realizada pelo Centro de Estudos do Judaísmo Europeu Contemporâneo, com o apoio da Fundação Familiar Adam e Gila Milstein e do Instituto Irwin Cotler para Democracia, Direitos Humanos e Justiça, com o apoio de Richard e Elaine Dubrovsky e Sara Vered.

*Com informações do The Jerusalem Post via portal Guiame

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