IA com neurônios artificiais foi capaz de aprender tarefas e, depois, descrevê-las para outra IA; resultados podem ser especialmente úteis na área da robótica
Executar uma tarefa apenas a partir de instruções verbais ou escritas, sem ter experiência prévia, e depois conseguir descrevê-la para que outros possam reproduzi-la é uma habilidade humana considerada única. Essa é uma capacidade que está na mira da inteligência artificial (IA) e, ao que parece, os pesquisadores têm obtido avanços.
Em artigo publicado na última segunda-feira (18) na revista Nature Neuroscience, cientistas da Universidade de Genebra, na Suíça, descrevem uma rede neural artificial capaz de realizar tal processo cognitivo. Uma inteligência artificial aprendeu e concluiu uma série de tarefas básicas e, em seguida, as descreveu para outra inteligência artificial, que também conseguiu fazê-las.
Essa "conversa" é classificada como promissora, sobretudo para a área da robótica, além de inédita. "Atualmente, agentes de conversação que utilizam IA são capazes de integrar informações linguísticas para produzir texto ou imagem. Mas, até onde sabemos, eles ainda não conseguem traduzir uma instrução verbal ou escrita para uma ação sensória-motora, e menos ainda explicá-la para outra inteligência artificial reproduzi-la", explica o neurocientista Alexandre Pouget, em comunicado.
Pouget conduziu a pesquisa com o neurocientista Reidar Riveland, doutorando e primeiro autor do artigo. A dupla utilizou um modelo de neurônios artificiais chamado S-Bert, que tem cerca de 300 milhões de neurônios e é treinado para entender a linguagem, e o conectou a outra rede mais simples com milhares de neurônios.
Inicialmente, foi preciso treinar a rede para simular a área de Wernicke, região do cérebro associada à percepção e à interpretação da linguagem. Em seguida, para reproduzir a área de Broca, que auxilia na produção e na articulação de palavras. Ambas as etapas foram feitas em laptops convencionais.
Depois, instruções escritas em inglês foram transmitidas à inteligência artificial — ela deveria, por exemplo, apontar se determinados estímulos vinham da direita ou da esquerda e também diferenciar quais seriam mais brilhantes.
"Uma vez que essas tarefas foram aprendidas, a rede foi capaz de descrevê-las para uma segunda rede (uma cópia da primeira) reproduzi-las", diz Pouget. "Até onde sabemos, essa é a primeira vez que duas IAs foram capazes de conversar uma com a outra de maneira puramente linguística", afirma.
A expectativa é de que o estudo sirva como referência para novas tecnologias no setor da robótica – para o qual seria interessante ter, por exemplo, máquinas que conversam entre si. "A rede que nós desenvolvemos é bem pequena. Agora, nada impede o desenvolvimento, a partir dessa base, de redes muito mais complexas que seriam integradas a robôs humanoides capazes de nos entender e entender uns aos outros", comentam Pouget e Riveland.
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