Pastores e líderes evangélicos mostram implicações espirituais ao Brasil após fala do presidente, que comparou as operações de Israel em Gaza ao Holocausto
As autoridades de Israel criticaram fortemente as declarações de Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou as operações militares israelenses contra o Hamas em Gaza ao Holocausto.
Além do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu ter dito que as palavras do presidente brasileiro são "vergonhosas e graves", Lula também foi considerado "persona non grata" [pessoa não bem-vinda] pelo governo de Israel.
Na esteira das repercussões negativas em níveis diplomático e político, as falas de Lula também têm sido analisadas sob o aspecto espiritual por pastores e líderes evangélicos.
Em entrevista ao Guiame, o pastor Joel Engel disse que "este foi o pior de todos os prejuízos que nossa nação já teve no decorrer de toda a história, ao ter um presidente contra a Nação Santa, a nação escolhida por Deus, a nação mais amada aqui no Brasil".
"Todo cristão ama e respeita Israel, que é o berço da religião monoteísta e de toda a Palavra de Deus. Tudo nasceu em Israel, tudo o que nós cremos e amamos, tudo que nós respeitamos e reverenciamos está na Palavra de Deus desde a criação", disse.
Para ele, Lula fala do que não conhece, e humilha pessoas que já morreram pela ação do Holocausto e os sobreviventes do massacre perpetrado pelo nazismo de Hitler.
O pastor diz que esse tipo de fala provoca a maldição contida em Gênesis 12 e lembra que amaldiçoar Israel é uma coisa terrível: "Se isso não for reparado, iremos sofrer como nação".
Ele disse ainda que o primeiro a sofrer com esse tipo de maldição foi o Egito, que escravizou o povo de Deus e, por isso, a nação mais poderosa e mais próspera do mundo na época entrou em decadência.
O pastor disse também que o povo brasileiro não se sente representado pelo atual governo, que classificou como "anticristão" e "anti-Israel". Engel afirmou que o presidente do Brasil precisa se arrepender e pedir perdão não só a Israel, mas a Deus.
'Precisamos orar'
Para o pastor Lamartine Posella, o discurso de Lula, que comparou Israel ao Hamas, foi "desastroso".
Segundo o pastor da Yah Church em SP, "nós precisamos orar, porque há uma promessa de Deus, que diz 'abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem', e nós temos que orar e pedir a Deus perdão por essa declaração do nosso mandatário maior".
Posella disse ainda, em seu perfil no Instagram, que é preciso pedir que Deus não traga consequências para o Brasil, que não pensa como Lula.
"A maioria do povo brasileiro, especialmente o povo cristão, sabe que Israel não se compara com o Hamas, e que Israel é uma nação democrática e quer permanecer com o direito de ter liberdade de viver", disse.
Cristão de ascendência judaica, Hananya Naftali escreveu em seu perfil no Instagram que a fala de Lula "tem de ser condenada".
"Lula não representa os milhões de brasileiros que estão fortemente com Israel. Lula representa as forças das trevas, ditadura e comunismo", escreveu.
E finalizou: "Lula odeia tudo o que Israel representa – Bíblia, democracia, liberdade. Nós em Israel sabemos muito bem disso. Deus abençoe os milhões de brasileiros que estão com Israel."
O Ministério Ensinando de Sião – liderado pelo professor Matheus Zandonna e por seu pai, o rabino Marcelo Guimarães – também se manifestou publicamente "repudiando veementemente" a fala do presidente do Brasil.
"Cremos que essa ideologia do presidente e seu partido não representa a população brasileira, a qual tem um histórico de apoio e cooperação com o Estado de Israel", publicou no Instagram.
"Colocamos o Brasil e sua atual liderança em nossas orações, clamando para que o princípio imutável das promessas do Eterno seja mais uma vez uma realidade em nosso país: 'Abençoarei aos que te abençoarem' (Gn 12:3). Paz sobre Israel!".
'Discurso deplorável'
O hebraísta Getúlio Cidade falou com exclusividade ao Guiame e classificou o discurso de Lula como "o mais deplorável e lastimoso".
"Não se pode equiparar o assassinato sistêmico de seis milhões de judeus pela máquina nazista simplesmente porque eram judeus com a reação do Estado de Israel ao grupo terrorista do Hamas", disse.
"O contrário, sim, é verdade. O que fez o Hamas foi exatamente o que fizeram os nazistas na Segunda Guerra. Assassinaram mais de 1.200 judeus que estavam dormindo em uma manhã de Shabbat e feriado de Tabernáculos em suas casas. Não fizeram discriminação alguma entre homens, mulheres, crianças e idosos, assim como os nazistas."
Para o colunista do Guiame, a declaração do presidente brasileiro tem um cunho antissemita e é completamente distorcida da história.
"Quando digo que foi seu discurso mais lastimoso até aqui é por causa da repercussão espiritual que traz consigo essa fala", explicou.
"A promessa de Deus a Abraão, em Gênesis 12:3, é de abençoar quem abençoa Israel e de amaldiçoar quem o amaldiçoa. Essa é a lei da bênção e da maldição e pende sobre a cabeça de todos os homens, povos e nações", lembrou.
"Ela se cumpre para todos e está ligada ao modo como lidamos com Israel. Quem abençoar Israel de algum modo será abençoado. Quem o amaldiçoar de algum modo será amaldiçoado por Deus. É uma lei válida há milênios. Cumpriu-se na história, no destino de impérios e nações, e se cumpre até hoje", afirmou.
Comparando a atitude entre Lula e o presidente da Argentina Javier Milei com relação a Israel, Getúlio disse:
"Apenas quatro dias depois da visita de Milei a Israel, houve uma operação das Forças de Defesa de Israel que resgatou dois reféns argentinos", apontou.
"O ato do presidente argentino pode ter sido simples, mas a repercussão espiritual é grande, por causa de seu papel de líder do executivo. E, nesse caso, redundou no resgate de dois judeus nascidos na Argentina", disse.
Segundo o hebraísta, esse tipo de declaração traz o cumprimento de uma lei divina, como a lei do retorno. "A única forma de se reverter a maldição contra o Brasil é por intermédio de clamor a Deus e pedido de perdão, assim como pedido de perdão a Israel."
Autoridades de Israel
Enquanto o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse no domingo (18) que a fala de Lula equivale a "cruzar uma linha vermelha", o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, declarou o presidente do Brasil como ‘persona non grata’ [pessoa não bem-vinda] ao país.
"Nós não perdoaremos e não esqueceremos – em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que se desculpe e se retrate por suas palavras", postou o embaixador israelense.
Além disso, Katz informou que fez uma convocação ao embaixador brasileiro para uma conversa sobre a questão que atingiu níveis diplomáticos.
"Esta manhã, convoquei o embaixador brasileiro em Israel perto de Vashem, o lugar que testemunha mais do que qualquer outra coisa o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo membros da minha família."
"A comparação do presidente brasileiro Lula entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que destruíram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória daqueles que morreram no Holocausto."
Publicado originalmente em portal Guiame
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