Bolsonaro também rebateu acusações de ter planejado um Golpe de Estado
Em discurso em manifestação em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro defendeu a pacificação do país e um projeto de anistia para os presos das manifestações de 8 de janeiro de 2023. Ele também rebateu as acusações de que teria planejado um golpe de Estado que foram feitas na operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República, autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Também agradeceu a presença dos 750 mil manifestantes na Avenida Paulista e afirmou que a fotografia da manifestação vai rodar o mundo.
"O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar uma maneira de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados. É por parte do parlamento brasileiro, Nikolas, Gayer, Zucco, Feliciano, meus colegas aqui do lado, é uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos que seus filhos sejam órfãos de pais vivos", disse.
"Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora nós pedimos a todos os 513 deputados e 81 senadores um projeto de anistia para que seja feita justiça no Brasil", afirmou Bolsonaro. Ele disse que quem praticou vandalismo em 8 de janeiro de 2023 deve pagar, mas as penas que estão sendo impostas "fogem ao mínimo da razoabilidade".
Bolsonaro também rebateu acusações de ter planejado um Golpe de Estado. "Golpe é tanque na rua, nada disso foi feito no Brasil", afirmou o ex-presidente. Ele disse que a base da acusação contra ele é uma minuta de decreto de Estado de Defesa. "Golpe usando a Constituição? Tenha santa paciência!", afirmou.
Bolsonaro negou a intenção de fazer um decreto de Estado de Sítio ou Estado de Defesa. Ele disse ainda que para fazer isso ele teria que ter convocado os conselhos de Defesa e da República. Depois, a suposta proposta ainda teria que ser votada pelo Parlamento. Ele disse que seus acusadores querem emplacar a tese de que um golpe estava em gestação.
O ex-presidente também deu a entender que a presença de grande quantidade de pessoas no ato deste domingo mostraria que o ex-presidente Lula não teria o povo a seu lado. "Com essa fotografia mostramos que podemos ver um time de futebol sem torcida ser campeão, mas não conseguimos entender como existe um presidente sem povo ao seu lado", disse.
Ele também discursou dizendo que o Brasil não pode admitir o socialismo, o comunismo, a ideologia de gênero, a legalização das drogas e o aborto.
A presença massiva de apoiadores ao ato também mostrou que Bolsonaro tem força suficiente para influir nas eleições deste ano, quando seu Partido Liberal tem a meta de eleger mais de mil prefeitos. "Em 2024 temos eleições municipais, vamos caprichar no voto, em especial para vereadores. E também por que não dizer para prefeitos também? E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence", disse Bolsonaro.
"Peço sempre a Deus: esse povo brasileiro não merece estar vivendo por este momento, onde tão poucos causam tantos males a todos nós", disse o ex-presidente. Bolsonaro relembrou as dificuldades enfrentadas desde a eleição, valorizando o episódio da facada e agradecendo por sua vida. "Eu podia para não deixar minha filha Laura órfã", disse, fazendo analogia ao povo brasileiro que, segundo ele, hoje está órfão do Estado Democrático de Direito.
"O abuso de alguns traz insegurança a todos nós", disse o ex-mandatário. "Sem ele [o estado democrático de direito] estamos criando órfãos de pais vivos", afirmou. Alertou que a liberdade é um bem maior que deve ser vigiada "todos os dias, como num relacionamento", usando suas metáforas familiares.
Ao discorrer sobre seu passado militar, Bolsonaro disse que conheceu a luta armada em 1970 e relembrou a execução do tenente Alberto Mendes Júnior pelos guerrilheiros de esquerda, tema recorrente do ex-presidente.
A maior parte de pouco mais de 15 minutos da fala foi dedicada à defesa de seu legado. Enalteceu o governador Tarcísio, o ministro Marcos Pontes e a Ministra Tereza Cristina. "Nosso agronegócio orgulha todos, "Durante meus quatro anos o MST não apareceu. Não deu as caras", disse o presidente, destacando que concedeu titularidade de terra a mais de 400 mil pessoas, 80% delas mulheres e mães de família.
O ex-presidente frisou a lei de liberdade econômica e seu "gigante" ministro Paulo Guedes na economia, que deixou no caixa um superávit de 54 milhões de reais, contra o déficit de R$ 180 milhões no primeiro ano do Partido dos Trabalhadores. Destacou o aumento do auxílio emergencial, dos R$ 190 para R$ 600 durante a pandemia, "com responsabilidade fiscal".
Centenas de milhares de manifestantes ocuparam a Avenida Paulista praticamente de ponta a ponta neste domingo para apoiar Bolsonaro. Cerca de 100 parlamentares, quatro governadores e ao menos 10 senadores foram ao local apoiar o ato.
A maioria dos manifestantes seguiu a recomendação de Bolsonaro para não levar cartazes com ataques que pudessem ser usados em novos processos contra o ex-presidente. Não houve tumulto, mas algumas pessoas passaram mal por causa do calor e da aglomeração e precisaram de atendimento médico.
Além de Bolsonaro, também discursaram o pastor Silas Malafaia, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Veja abaixo os principais discursos.
Malafaia diz que Estado Democrático de Direito está em perigo
O pastor Silas Malafaia, organizador do evento e líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, iniciou seu discurso fazendo um repúdio às falas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel, “que fez o Brasil ser vergonha no mundo inteiro”. Malafaia afirmou que sua fala “não representa o povo brasileiro” e que Lula é o “único presidente de um país democrático que recebeu elogio de um grupo terrorista assassina, o Hamas”.
Na sequência, Malafaia afirmou que não foi ao ato para "atacar o Supremo Tribunal Federal, porque quando você ataca uma instituição, você é contra a República e o Estado Democrático de Direito", mas que iria relembrar os acontecimentos para mostrar "a engenharia do mal para querer prender o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, a engenharia do mal para destruir o Estado Democrático de Direito".
Nos fatos citados por Malafaia, ele questionou a diferenciação feita pela Justiça no tratamento a episódios ocorridos com a direita e com a esquerda. Entre eles, Malafaia citou o fato de, em 2014, quando Aécio Neves perdeu a eleição, "o PSDB de Alexandre de Moraes" ter entrado "com uma ação no TSE questionando o resultado das eleições e questionando as urnas eletrônicas". "Sabe o que aconteceu? Nada. Nada", disse Malafaia, citando ainda o tratamento dado aos manifestantes do 8 de janeiro.
Na sequência, Malafaia afirmou que as pessoas estão com medo de expor suas opiniões e que "o Estado Democrático de Direito está em perigo". Ele afirmou ainda que o povo "é o supremo poder dessa nação" e terminou o seu discurso citando um trecho da Bíblia que afirma que "o senhor é meu ajudador, não temerei o que me possa fazer o homem". Ao final, convidou os presentes a cantarem um trecho do hino nacional.
Ivan Almeida, motorista de 55 anos, veio de Brasília para participar do ato na Paulista em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e usa uma bandeira de Israel para defender "o povo de Deus" |
Michelle relembra facada a Bolsonaro
Em tom emocionado, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro abriu os discursos na Avenida Paulista. Exaltando a misericórdia de Deus, saudou os "homens e mulheres de bem" e patriotas. Afirmou que estava sofrendo desde 2017 quando seu marido foi escolhido e se atreveu a falar "Deus acima de tudo".
"Hoje o povo brasileiro sabe a diferença entre um governo justo e um governo ímpio", afirmou Michelle. Ela relembrou a facada recebida pelo marido às vésperas da eleição de 2017. "Naquele momento os médicos falaram que era só Deus. E eu me ajoelhei. Desde então minha fé foi renovada. A ex-primeira dama falou das dificuldades de ser mulher na política e sofrer diariamente "assassinatos de reputação". Depois de declamar um salmo, Michele mencionou a guerra em Israel. "Esperamos que a verdadeira Shalom vença em Israel".
Tarcísio diz que Bolsonaro não é mais uma pessoa, é um movimento
"Meu amigo Bolsonaro, você não é mais um CPF, você não é mais uma pessoa, você representa um movimento", afirmou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas representando os governadores.
"Eu tenho certeza que vocês estavam com saudades de vestir o verde e amarelo", gritou pra plateia. E do nosso sempre presidente Jair Bolsonaro". Estamos aqui para celebrar o verde e amarelo e para celebrar o estado democrático de direito".
O governador exaltou a necessidade de segurança jurídica, credibilidade para trazer investimentos e, especialmente, da justiça social. Lembrando o legado de Bolsonaro, chamou o presidente ao seu lado. A multidão gritava "Mito". Destacou os avanços do governo anterior, com aumento da arrecadação e redução de impostos, que entregou o país com superávit. "O senhor nos ajudou a relembrar valores, pátria, família e liberdade. Muito obrigada, Bolsonaro".
Nikolas diz que um presidente de direita retornará à presidência
Em seu discurso Nikolas saudou os homens e mulheres que não desistiram do Brasil. Também alertou que as pessoas ficaram desanimadas, mas estão recuperadas. Ele citou Moisés que não chegou a entrar na terra prometida, "mas Calebe entrou. Talvez nos não veremos o Brasil prometido, mas os nossos filhos verão novamente um Brasil verde e amarelo".
"Não temos o direito de ter menos persistência que o nosso inimigo. Quando nosso verdadeiro líder chamado Jair Bolsonaro se levanta, o povo se levanta com ele", disse Nikolas.
Ele finalizou seu discurso dizendo que a hora mais escura antecede o amanhecer. "Um dia veremos novamente um presidente de direita retornar à Presidência da República", afirmou.
Gustavo Gayer agradece presença de governadores e parlamentares
O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) dirigiu seu discurso aos demais parlamentares, principalmente os que estavam na manifestação, mas não poderiam falar por falta de tempo. Afirmou que a presença deles "torna esse momento único na história do nosso país. Temos mais de 100 deputados federais de todos os Estados do Brasil".
Ele também ressaltou a presença dos governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás) e Jorginho Melo (Santa Catarina). "Vir aqui hoje é colocar um alvo gigantesco nas nossas costas. Uma salva de palmas para os governadores que vieram aqui hoje, esses ganharam nosso respeito, porque não é fácil estar do lado certo da história. É muito mais fácil ficar do outro lado, porque o lado certo corre riscos hoje em dia", afirmou.
Gayer também disse que a manifestação está batendo um recorde de lotação na Avenida Paulista e que a oposição não vai parar, mas a luta "não vai ser fácil".
O deputado também criticou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados. "Porque neste momento eles estão com medo. Nesse momento eles estão a portas fechadas conversando entre eles (...) eles vão dar conta de parar essa força que estão crescendo no coração brasileiro", disse.
Publicado originalmente em Gazeta do Povo
Magno Malta critica Lula por equiparar Israel a nazistas
O senado Magno Malta fez um discurso comparando Bolsonaro e seus apoiadores a Moisés e os judeus encurralados pelo faraó do Egito antes da abertura do Mar vermelho. "Somos os cristão encurralados", disse. "Jair, você nunca esteve só. Quem te escolheu foi Deus", afirmou.
Magno Malta também comentou a fala recente de Lula comparando a guerra que Israel trava contra terroristas do Hamas ao Holocausto promovido pelos nazistas contra os judeus. Ele disse que nem os líderes de países que querem a destruição de Israel tiveram a ousadia de fazer essa comparação. "Mas aquele que hoje está na Presidência da República teve a pachorra de tocar na memória dos inocentes, das crianças que morreram em campos de concentração, em mulheres, homens, seis milhões de vítimas da ditadura de Hitler", disse o senador.
Malta falou ainda que o Brasil precisa reestabelecer o seu Estado Democrático de Direito. "Este país é um país que tem uma Constituição e precisa ser respeitada. Tem três poderes, Poder Judiciário, Poder Legislativo e Poder Executivo, sem atropelos, um necessariamente precisa respeitar o outro", afirmou.
Publicado originalmente em Gazeta do Povo
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