A pressão sobre Biden aumenta conforme a corrida para as eleições de novembro se aproxima
A crise migratória que assola os Estados Unidos apresentou um novo recorde histórico no mês passado. De acordo com números preliminares divulgados por fontes oficiais do governo americano, ouvidas pela emissora ABC, mais de 300 mil imigrantes foram contados ao longo da fronteira sudoeste do país somente em dezembro, o maior registro mensal já observado pelas autoridades.
Até então, o recorde havia sido notado em setembro do ano passado, quando mais de 200 mil migrantes chegaram à fronteira em 30 dias.
Os novos dados surgem em um momento crítico para a gestão do democrata Joe Biden, que iniciou nesta semana uma batalha judicial contra o Texas por considerar inconstitucional uma lei estadual, a SB 4, que permite que autoridades do estado prendam qualquer pessoa que esteja ilegalmente em sua demarcação territorial, medida que, em tese, só poderia ser efetuada no âmbito federal.
A crise enfrentada pelo país tem sido um dos principais desafios para o mandatário da Casa Branca, que vê tanto republicanos quanto democratas, que historicamente discordam em pautas de migração, criticando em uníssono sua gestão em relação ao tema e demandando uma reforma no sistema de entrada de estrangeiros.
De acordo com o jornal The New York Times, gestores públicos ligados ao Partido Democrata em estados como Boston, Denver, Chicago e Nova York afirmam experimentar crises crescentes em suas cidades e têm pressionado quase diariamente o Gabinete de Assuntos Intergovernamentais da Casa Branca e outros funcionários da administração a apresentarem soluções para o problema.
No Colorado, mais de 36 mil migrantes chegaram nos últimos meses, com 4.100 ainda em abrigos da cidade de Denver. Em Nova Iorque, mais de 164 mil migrantes foram alocados em abrigos desde abril do ano passado, sendo que muitos ainda residem em hotéis e escritórios transformados em abrigos temporários ou acampamentos montados para os acomodar.
Nesta semana, a prefeitura de Nova York, administrada pelo democrata Erick Adams, ingressou com uma ação contra 17 empresas de ônibus fretados que foram contratadas pelo governador do Texas, Greg Abbott, para levar imigrantes ilegais para a maior cidade dos Estados Unidos. Segundo informações da CBS News, o prefeito quer que as empresas de ônibus paguem US$ 708 milhões (R$ 3,4 trilhões), valor equivalente ao que a prefeitura gastou para abrigar imigrantes ilegais emergencialmente.
Dados da Patrulha de Fronteira dos EUA estimam que mais de 2,4 milhões de migrantes tiveram a passagem negada por via terrestre entre outubro de 2022 e setembro de 2023 no país, um fluxo superior a anos anteriores. Entre a última semana de novembro e o início de dezembro, o governo estimou que o número de migrantes detidos nas travessias cresceu 31%.
A expansão da crise, observada de perto por Biden, levou a um encontro de autoridades da Casa Branca com o governo mexicano, liderado por López Obrador. Na semana passada, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se dirigiu ao México para uma reunião de urgência com o presidente do país vizinho, a fim de discutirem questões relacionadas ao aumento da migração irregular e possíveis atuações conjuntas para controlar o fluxo que sai da América Latina em direção à fronteira.
A administração de Biden solicitou a Obrador um esforço contínuo na contenção desses migrantes. Dados oficiais apontam que a migração irregular na fronteira elevou em 35% as detenções no país.
Após o encontro, o México concordou em aliviar o fluxo em direção à fronteira norte com os EUA. Já Washington enviou uma solicitação à Suprema Corte para que seus agentes federais possam retirar os arames farpados que o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, mandou instalar para evitar a entrada ilegal de pessoas no estado. Além disso, quatro postos fronteiriços na Califórnia, Arizona e Texas serão abertos, de acordo com o governo federal.
A crise migratória também tem sido motivo de intensos conflitos entre republicanos e democratas no Congresso americano, onde os conservadores exigem um endurecimento da política para conter a migração em troca de um novo pacote de ajuda à Ucrânia e Israel, países que têm se apoiado na parceria com a gestão de Biden para manter sua defesa contra Moscou e o Hamas, respectivamente.
Apesar de concordarem sobre a aprovação de maiores restrições à entrada de imigrantes e financiamento para a segurança das fronteiras, os legisladores de ambos os partidos ainda não conseguiram chegar a um acordo sobre valores e formas de dedicar recursos para a questão.
A pressão sobre Biden aumenta conforme a corrida para as eleições de novembro se aproxima, ocasião na qual o atual mandatário deve concorrer à reeleição.
Mesmo sem um diálogo consolidado com o Partido Republicano sobre a crise, funcionários da Casa Branca já sinalizam que estão abertos a medidas que tornariam mais difícil a requisição de asilo no país. Segundo o The New York Times, negociadores democratas, incluindo o secretário da Segurança Interna, Alejandro N. Mayorkas, parecem dispostos a discutir novas regras que podem levar a deportações mais rápidas de migrantes que vivem ilegalmente em cidades americanas.
O possível acordo político mudaria o posicionamento que Biden mostrou até o momento à frente da Casa Branca, período no qual beneficiou milhares de imigrantes no país.
A questão é um dos principais pontos que influenciam a decisão do eleitor nas próximas eleições presidenciais, marcadas para novembro deste ano, que podem novamente ser disputadas entre o atual mandatário democrata e o ex-presidente Donald Trump, que apresenta um forte posicionamento anti-imigração.
Publicado originalmente em Gazeta do Povo
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