Irã, Líbano, Houthis: início de ano violento aumenta temor de escalada no Oriente Médio

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, durante homenagem ao ex-comandante da unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã, Qasem Soleimani, na quarta-feira (3) | Foto: EFE/EPA/ABEDIN TAHERKENAREH

"As probabilidades de uma guerra regional no Oriente Médio subiram de 15% para 30%"

Logo na primeira semana do ano, uma série de fatos no Oriente Médio faz crescer o temor de que a violência na região se estenda além do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, iniciado em outubro após os atentados em território israelense.

O receio de escalada existe desde os primeiros dias da guerra, devido às ações paralelas ao palco principal, como os ataques dos rebeldes houthis do Iêmen e confrontos pontuais entre Israel e o grupo xiita libanês Hezbollah.

Entretanto, os desdobramentos dos últimos dias podem abrir brecha para o acirramento das tensões, a entrada mais incisiva de certos atores e até de conflitos paralelos a Israel x Hamas.

"As probabilidades de uma guerra regional no Oriente Médio subiram de 15% para 30%", disse o almirante reformado James Stavridis, ex-comandante da OTAN, ao New York Times. "Ainda relativamente baixas, mas maiores do que antes, e certamente desconfortavelmente altas."

Confira os principais focos de tensão no momento:

Irã

Na quarta-feira (3), um ataque em Kerman, no Irã, matou 89 pessoas e deixou quase 300 feridas durante uma homenagem a Qassem Soleimani, ex-comandante da unidade de elite da Guarda Revolucionária Iraniana morto por um drone dos Estados Unidos em 2020.

O Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado no dia seguinte, o que pode levar a uma forte resposta iraniana ao grupo terrorista e um conflito paralelo no Oriente Médio. Até esta sexta-feira (5), 11 suspeitos de envolvimento no ataque haviam sido presos pelas autoridades iranianas.

Ao mesmo tempo, Teerã deve manter ou até aumentar a ênfase em ações de desestabilização em outros países do Oriente Médio por meio dos grupos que apoia: Hamas, Hezbollah e os houthis do Iêmen.

"Uma arquitetura de segurança regional cada vez mais eficaz, do tipo que os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão tentando construir, é um pesadelo para o Irã, que, como um valentão no parquinho, quer manter todas as outras crianças divididas e distraídas", disse Bradley Bowman, diretor sênior do think tank americano Centro de Poder Militar e Político, em entrevista ao site Politico.

Líbano

Um bombardeio atingiu escritórios do Hamas nos arredores da capital libanesa, Beirute, na terça-feira (2) e pelo menos um veículo que estava nas proximidades, matando sete pessoas.

Entre elas, estavam o número dois do braço político do Hamas, Saleh al Arouri, e outros dois membros do grupo terrorista.

Além de uma possível escalada por parte do próprio Hamas, há receio de uma entrada mais incisiva do Hezbollah, baseado no Líbano, na guerra contra Israel, ainda que o Estado judeu não tenha confirmado a autoria do ataque em Beirute.

O ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bou Habib, disse à BBC que pediu ao Hezbollah para não que não haja retaliações.

"Estamos muito preocupados, nós, libaneses não queremos ser arrastados [para a guerra], nem mesmo o Hezbollah quer ser arrastado para uma guerra regional", afirmou.

Houthis

Em "solidariedade à causa palestina", os rebeldes houthis do Iêmen, também apoiados pelo Irã, fizeram ataques a Israel e têm promovido ações no Mar Vermelho.

Um comunicado dos Estados Unidos, endossado por Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Bahrein, Bélgica, Canadá, Alemanha, Dinamarca, Itália, Japão, Singapura e Holanda, pediu a interrupção imediata desses ataques e indicou que a paciência do Ocidente e aliados com os houthis, apesar do receio de despertar novamente a guerra no Iêmen, está curta.

"Os houthis arcarão com as consequências caso continuem a ameaçar vidas, a economia global e o livre fluxo do comércio nas vias navegáveis críticas da região", apontaram.

Os rebeldes houthis, por sua vez, acusaram a recém-formada aliança naval liderada pelos Estados Unidos de representar uma "grave ameaça" para a navegação no Mar Vermelho.

"A formação de uma aliança dos EUA para proteger os navios israelenses representa uma grave ameaça à segurança da navegação internacional no Mar Vermelho, e os envolvidos devem arcar com as consequências do perigoso e irresponsável aumento de tensão", declarou em comunicado o escritório político do grupo.

Iraque

Um ataque nesta semana ao quartel-general de uma das milícias da Multidão Popular, grupo pró-Irã, no leste de Bagdá, causou a morte de três combatentes, incluindo a de um importante comandante.

O Exército iraquiano culpou a coalizão liderada pelos EUA pelo ataque e o Ministério das Relações Exteriores do Iraque afirmou que essa "agressão" contra o grupo de milícias, em sua maioria pró-iranianas e de fato integradas às Forças Armadas iraquianas, representa "uma escalada perigosa".

A pasta alegou na quinta-feira (4) que o país tem o direito de tomar "medidas para dissuadir qualquer um que tente prejudicar seu território ou sua segurança".

Os Estados Unidos depois assumiram responsabilidade pela ação, alegando "legítima defesa" em razão de ataques de milícias a suas bases na região, que foram motivados pelo apoio americano a Israel.

Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shia al Sudani, anunciou a formação de um comitê bilateral para programar a retirada das forças da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

*Com informações da Agência EFE

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