Líderes de gigantes da tecnologia como OpenAI, Meta e X estão ditando o debate sobre a regulamentação da inteligência artificial. Influência crescente preocupa pesquisadores e ativistas
Enquanto a inteligência artificial (IA) transforma indústrias e a própria sociedade, políticos quebram a cabeça pensando em como regulamentá-la.
CEOs das principais empresas de tecnologia do mundo surgiram como vozes de destaque nesse debate, apresentando seus pontos de vista sobre os potenciais benefícios e riscos da IA.
Pesquisadores e ativistas, porém, têm se mostrado preocupados com a influência crescente do setor na conversa. Eles apontam para uma exasperante dominância de empresas americanas, suscitando questionamentos sobre a sub-representação de outras regiões do mundo, especialmente do Sul GlobaL. Também temem que essa situação possa ofuscar questões críticas como violação de privacidade e proteção trabalhista.
"Temos visto essas empresas pautarem o debate com muita habilidade", afirma Gina Neff, diretora-executiva do Centro Minderoo para Tecnologia e Democracia na Universidade de Cambridge.
Veja quem são e o que defendem as vozes mais influentes no debate de regulamentação da AI.
Elon Musk, o profeta da ruína
Nenhum empresário tem sido mais enfático ao falar sobre os potenciais riscos da inteligência artificial do que o bilionário Elon Musk | Foto: Alain Jocard/AFP |
Ele está desviando atenção da tecnologia com a qual estamos lidando neste momento para coisas que são bem especulativas e, muitas vezes, estão no âmbito da ficção científica.— Daniel Leufer, analista sênior do Access Now
Sam Altman, o encantador de reguladores
CEO da OpenAI, Sam Altman | Foto: JACK GUEZ/AFP/Getty Images |
CEO da Open AI, embarcou em uma turnê para discutir a regulamentação da IA. Sua empresa, sediada em San Francisco, lançou o ChatGPT, em novembro de 2022. A "turnê" abarca legisladores mundo afora – de Washington a Bruxelas.
Altman foi alçado à vanguarda do debate. Nos encontros, o empresário disse que aplicações de IA de alto risco poderiam causar "danos significativos ao mundo" e precisavam ser regulamentadas, apenas para em seguida oferecer a expertise da OpenAI para orientar os legisladores em meio às complexidades de sistemas de ponta de IA.
Basicamente, ele está dizendo: 'Não confiem em nossos concorrentes, não confiem em vocês mesmos, confiem em nós para fazer esse trabalho' É uma comunicação corporativa brilhante.
— Gina Neff, diretora-executiva do Centro Minderoo para Tecnologia e Democracia na Universidade de Cambridge
Especialista alerta para participação da sociedade. Para Neff, a abordagem da OpenAI, embora eficaz do ponto de vista dos interesses da empresa, pode não refletir adequadamente a diversidade de vozes na sociedade. "Pedimos mais responsabilidade e participação democrática nessas decisões, e não é isso o que estamos ouvindo de Altman."
Mark Zuckerberg, o gigante silencioso
O pai do Facebook e dono da Meta, Mark Zuckerberg | Foto: JOSH EDELSON/AFP/Getty Images |
O CEO da Meta, empresa líder em desenvolvimento de IA, tem estado notavelmente quieto no debate. Dirigindo-se a congressistas americanos em setembro, Mark Zuckerberg defendeu a colaboração conjunta entre legisladores, acadêmicos, sociedade civil e indústria para "minimizar os potenciais riscos dessa nova tecnologia, mas também para maximizar os potenciais benefícios".
Zuckerberg parece ter delegado boa parte da discussão regulatória a seus subordinados, como o presidente de assuntos globais da empresa, o ex-político britânico Nick Clegg.
I’m looking forward to attending the AI Safety Summit in the UK this week. I hope we spend as much time as possible developing much-needed solutions to current problems – for example, on the transparency and detectability of AI-generated content
— Nick Clegg (@nickclegg) October 31, 2023
Nos bastidores da recente cúpula de IA no Reino Unido, Clegg minimizou temores sobre riscos da IA que possam ameaçar a sobrevivência humana – enfatizando, em vez disso, ameaças mais imediatas, como o risco de interferência indevida nas eleições no Reino Unido e nos EUA, marcadas para o ano que vem – e defendeu a busca por soluções de curto prazo para questões como a detecção de conteúdo online gerado por IA.
Dario Amodei, o novo garoto no pedaço
O empresário Dario Amodei, ex-OpenAI e hoje à frente da Anthropic | Foto: Kimberly White/Getty Images for TechCrunch |
Apresentou aos legisladores metodologia desenvolvida pela Anthropic para lidar com ameaças iminentes. A abordagem categoriza os sistemas de IA com base nos riscos potenciais à segurança dos usuários. Uma metodologia semelhante, segundo ele, poderia servir como um "protótipo" para a elaboração de projetos de lei para regulamentar a tecnologia.
Especialista destaca necessidade de independência. Leufer, da ONG Access Now, alerta contra qualquer dependência excessiva de atores corporativos como a Anthropic para a elaboração de políticas públicas: embora suas contribuições para o debate sejam necessárias e úteis, os legisladores devem manter sua independência.
Com certeza não deveriam ser eles a ditar as regras. Devemos ter muito cuidado em deixar que eles determinem a agenda.— Daniel Leufer, analista sênior do Access Now
Publicado originalmente em DW
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