Ao atravessar o Canal de Suez, a 421ª Brigada mudou não apenas o curso da guerra, mas possivelmente até a face do Oriente Médio, publicou o i24NEWS
Foi um ponto de virada que mudou não apenas Israel, mas também o Oriente Médio. Aqueles que viveram essa experiência, como os homens da 421ª Brigada Blindada, construíram famílias amorosas e alcançaram carreiras de sucesso, tanto em Israel quanto em todo o mundo. No entanto, eles sempre compartilharão um vínculo inquebrável forjado naquele sangrento outubro de 1973.
Tudo começou com um dos eventos mais traumáticos da história de Israel – um ataque surpresa do Egito e da Síria na tarde de 6 de outubro de 1973 – o Dia do Perdão, Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico.
Para Amnon Amikam, que lutou como comandante de companhia na guerra, as memórias, mesmo depois de 50 anos, "são muito fortes".
"Sentíamos que o Estado de Israel estava em perigo, havia um ponto de interrogação sobre a sua existência. É assim que eu vejo", disse.
O ataque conjunto – os sírios avançando pela região das Colinas de Golã, no norte, os egípcios assaltando as fortificações de Israel ao longo do Canal de Suez, no sul – perfurou a certeza, até mesmo a arrogância, que havia se enraizado em Israel. Apenas dias antes da guerra, e apesar dos crescentes sinais, o serviço de inteligência militar das Forças de Defesa de Israel (IDF) havia declarado com confiança que as chances de uma guerra estourar eram "menores do que baixas".
No entanto, nem todos compartilhavam dessa avaliação.
"No dia anterior ao início da guerra, ouvi uma palestra de um alto oficial de inteligência. Ela terminou com a suposição de que, uma vez que os exércitos árabes não tinham uma boa resposta para a Força Aérea Israelense, não haveria guerra nos próximos anos", lembra o Major-General da reserva Chaim Erez, que comandou a 421ª Brigada Blindada durante a guerra.
Major-General (reserva) Chaim Erez, que comandou a 421ª Brigada Blindada durante a Guerra do Yom Kippur | i24NEWS |
"Eu olhei para os mapas que ele apresentou e pensei que o IDF precisava fazer algo nesta situação. Não tinha certeza de que haveria uma guerra, mas achei que tínhamos que fazer algo. Liguei para meu vice e disse a ele para informar a todos os oficiais da brigada para ficarem em casa ao lado do telefone."
E, como previsto, os telefones tocaram no dia seguinte, enquanto os judeus em Israel marcavam o sombrio Dia do Perdão, Yom Kippur. Os oficiais da 421ª brigada estavam prontos, mas o resto do exército não estava.
"Chegamos ao centro de munições do IDF e encontramos nossos tanques completamente desmontados", lembra Oden Megido, comandante de companhia na época.
"As torres estavam em um local, onde os soldados estavam recebendo instruções. A parte inferior dos tanques estava em outro lugar, e os motores estavam em um terceiro local, onde funcionava a escola de mecânica. O comandante da base me pediu que não o pressionasse, pois havia sido informado de que ele tinha 72 horas para preparar os tanques."
O exército egípcio não esperou 72 horas. Nem mesmo esperou 72 segundos. Avançou rapidamente pelo Sinai, superando a série de fortificações que Israel havia estabelecido ao longo do canal – a chamada linha Bar Lev. Pela primeira vez em sua história, as aparentemente invencíveis IDF estavam enfrentando a derrota.
"Esta foi a primeira guerra de verdade em que estive", afirmou Yair Geller, que era um jovem oficial em 1973. "De repente, você vê soldados morrendo, soldados feridos. É assustador. Pela primeira vez, percebi que havia soldados desaparecidos em ação."
Nos primeiros dias desesperadores, as IDF sofreram perdas enormes em termos de pessoal, tanques e aeronaves. No entanto, à medida que mais unidades de reserva se juntavam à frente de batalha, a situação começou a se estabilizar ligeiramente. Mesmo assim, durante a primeira semana da guerra, os egípcios ainda mantinham a iniciativa.
Tudo isso mudou no domingo, 14 de outubro. Os egípcios foram derrotados de maneira decisiva em uma grande batalha de tanques. Agora, o caminho estava livre para que as IDF assumissem a iniciativa no front do Sinai e marcasse o ponto de virada da guerra.
A divisão blindada comandada pelo Major-General Ariel Sharon, o futuro primeiro-ministro de Israel, foi encarregada de cruzar o Canal de Suez e levar a guerra ao Egito, apelidado de "África" pelas tropas do IDF.
Sob constante fogo pesado, os homens de Sharon se reorganizaram e se prepararam para a travessia. A 421ª brigada blindada de Erez não deveria ser a primeira a atravessar. Uma grande ponte de rolos estava designada para ser usada pelas IDF. No entanto, devido aos intensos combates ocorrendo por toda parte, a ponte não chegou a tempo.
Após uma pequena força de paraquedistas atravessar o canal em botes de borracha para estabelecer uma pequena cabeça de ponte, chegou a hora de fazer os tanques cruzarem.
Cenas da campanha do Sinai durante a Guerra do Yom Kippur | Arquivos do IDF |
A 421ª brigada, com pontes flutuantes improvisadas, recebeu a tarefa que a maioria das pessoas considerava impossível. Os resultados surpreenderam até mesmo os israelenses.
"Nossa missão estava fadada ao fracasso, e no entanto, atravessamos o Canal de Suez com 28 tanques sem qualquer assistência", declarou Tzival Kantor, que em 1973 era o oficial de operações da brigada.
"Adentramos profundamente no território inimigo, superamos toda a resistência que encontramos e, de repente, conquistamos o controle desta região."
Foi uma demonstração de coragem e camaradagem que ressoa até hoje, meio século depois. Os oficiais e soldados da brigada sabem que fizeram algo especial, algo que não apenas mudou o curso da guerra, colocando o Egito na defensiva, mas possivelmente até a face do Oriente Médio.
"Sabíamos que tínhamos feito algo especial", afirmou Yossi Regev, comandante de companhia na 421ª brigada. "Também sabemos que não apenas alcançamos a vitória na guerra, mas também ajudamos a trazer a paz com o Egito, que havia sido nosso maior inimigo. Quatro anos após a guerra, o presidente egípcio Anwar Sadat veio a Israel e finalmente houve uma grande mudança."
"Nossas experiências na guerra permanecerão conosco para sempre", disse Ehud Kochavi, outro comandante de companhia da 421ª Brigada em 1973. "Podemos nos reunir aqui e discutir sobre política, mas somos os melhores amigos. Mesmo depois de 50 anos, não há amizade mais forte."
Alguns dos homens que lutaram na 421ª brigada durante a Guerra do Yom Kippur se reúnem para refletir sobre suas experiências | i24NEWS |
47 soldados e oficiais da 421ª brigada perderam a vida na Guerra do Yom Kippur, e centenas ficaram feridos. Foi um preço elevado a ser pago pela vitória, que, no final, contribuiu para a conquista da paz entre Israel e o Egito.
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