Acordo saudita pode entrar em vigor no início de 2024, diz chanceler de Israel

O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (à esquerda) e o Primeiro-Ministro israelense Benjamin Netanyahu (à direita) | crédito da foto: Bandar Algaloud/Cortesia da Corte Real Saudita/Handout Via Reuters, Tomer Neuberg/FLASH90

O Ministro das Relações Exteriores, Eli Cohen, afirma que as diferenças podem ser resolvidas ao longo do tempo, à medida que o progresso continua fortalecendo os laços entre Israel e a Arábia Saudita´

Em uma entrevista de televisão nos Estados Unidos, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, destacou o progresso contínuo em direção à normalização das relações com Israel e também fez um alerta enfático, afirmando que, caso o Irã adquira uma arma nuclear, "nós também teremos que obtê-la".

Em uma entrevista abrangente transmitida na quarta-feira (20) pela Fox News, o príncipe herdeiro afirmou: "A cada dia que passa, nos aproximamos mais". Ele estava abordando questões relacionadas às negociações cujo objetivo é levar Israel e a Arábia Saudita, adversários históricos, a firmarem um acordo histórico para estabelecer relações diplomáticas.


A entrevista concedida ao canal conservador dos Estados Unidos com o príncipe herdeiro, amplamente conhecido como MBS, acontece em um momento em que o governo Biden está intensificando seus esforços para mediar as relações históricas entre essas duas potências regionais, que são os principais aliados de Washington no Oriente Médio.

Possível normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita no início de 2024

Na manhã desta quinta-feira, o Ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, afirmou em entrevista à Rádio do Exército a perspectiva de um acordo que poderia ser firmado no início do próximo ano.

O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken (sem foto), se reúne com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, em Jeddah, Arábia Saudita, 6 de junho de 2023 | Crédito da foto: Bandar Algaloud/Cortesia da Corte Real Saudita/Reuters
Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken (sem foto), se reúne com príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, em Jeddah, Arábia Saudita, 6 de junho de 2023 | Crédito da foto: Bandar Algaloud/Cortesia da Corte Real Saudita/Reuters

"As lacunas podem ser superadas. Levará tempo, mas há progresso", afirmou Cohen. "Acredito que existe uma boa probabilidade de, no primeiro trimestre de 2024, daqui a quatro ou cinco meses, estarmos em um ponto em que os detalhes de um acordo estejam finalizados."

As negociações de normalização são o foco central de complexas negociações que também incluem discussões sobre garantias de segurança dos Estados Unidos e ajuda nuclear civil que Riad busca, bem como possíveis concessões de Israel aos palestinos.

"Para nós, a questão palestina é muito importante. Precisamos resolver essa parte", declarou MBS, o governante de fato da Arábia Saudita, quando questionado sobre o que seria necessário para alcançar um acordo de normalização. "E temos uma boa estratégia de negociação até agora."

"Veremos para onde isso nos levará. Esperamos chegar a um ponto que facilite a vida dos palestinos e coloque Israel como um jogador no Oriente Médio", afirmou, falando em inglês.

MBS também expressou preocupação com a possibilidade de o Irã, um adversário mútuo da Arábia Saudita e de Israel que os Estados Unidos desejam conter, obter uma arma nuclear. Teerã negou buscar uma bomba nuclear.

"Isso é um movimento ruim", afirmou, acrescentando: "Se isso acontecer, haverá um conflito de grande magnitude envolvendo o restante do mundo."


Questionado sobre o que aconteceria se o Irã conseguisse uma bomba nuclear, MBS afirmou: "Se eles conseguirem uma, nós teremos que adquirir uma também, por razões de segurança e para manter o equilíbrio de poder no Oriente Médio. No entanto, não desejamos que isso aconteça."

Potenciais benefícios do mega-acordo

Embora as autoridades norte-americanas insistam que qualquer progresso ainda está distante e que persistem obstáculos significativos, eles reconhecem em particular os benefícios potenciais de um mega-acordo regional.

Isso implica na remoção de um potencial ponto de conflito no cenário do conflito árabe-israelense, no fortalecimento das defesas contra o Irã e na resposta às investidas da China no Golfo. Além disso, Biden conquistaria uma vitória na sua política externa enquanto busca a reeleição em novembro de 2024.

A transmissão dos comentários pré-gravados do príncipe herdeiro aconteceu no mesmo dia de uma esperada reunião entre Biden e o Primeiro-Ministro israelense Benjamin Netanyahu, na qual eles se comprometeram a trabalhar juntos em direção à normalização entre Israel e a Arábia Saudita, o que poderia remodelar a geopolítica do Oriente Médio.

Ambos os líderes também reafirmaram a posição de que o Irã não deve ser autorizado a adquirir armas nucleares.

MBS emitiu um aviso contundente a Teerã, apesar de os dois países terem concordado em restaurar relações em negociações intermediadas pela China em março, após anos de hostilidade.

No entanto, ele ofereceu um ramo de oliveira ao Irã, ao afirmar que ambos os países haviam tido um "bom começo" e expressou a esperança de que essa trajetória positiva continuasse.

Enfrentando críticas dos EUA, MBS, cujo país é o maior exportador de petróleo do mundo, também defendeu a decisão da OPEP+ de reduzir a produção de petróleo, afirmando que isso visava à estabilidade do mercado e não pretendia ajudar a Rússia, dependente de energia, em sua guerra na Ucrânia.

MBS, quando questionado sobre a campanha militar da Rússia, condenou a invasão de outro país como algo "realmente lamentável", mas aparentemente manteve sua posição de não tomar partido na guerra.

Entre os desafios que os EUA enfrentam ao negociar um acordo abrangente, está a necessidade de atender às demandas de MBS. Há relatos de que ele está buscando um tratado que comprometa os EUA a defender o reino em caso de ataque, bem como a obtenção de armamentos avançados e apoio para um programa nuclear civil.

Dos israelenses, MBS busca concessões significativas em favor dos palestinos, com o objetivo de manter viva a perspectiva de estabelecer um Estado nos territórios "ocupados", algo que Biden também está promovendo, mas que o governo de extrema-direita de Netanyahu demonstrou pouca disposição em conceder.

Em Washington, cresce um senso de urgência em relação aos esforços da China para ganhar uma posição estratégica na Arábia Saudita. O governo também busca melhorar ainda mais os laços com Riad, algo que Biden uma vez prometeu tornar um "pária".

No entanto, a busca por uma relação de segurança aprimorada entre os EUA e a Arábia Saudita encontraria resistência no Congresso dos EUA, onde muitos membros são críticos de MBS devido ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, à intervenção de Riad no Iêmen e ao seu papel na elevação dos preços do petróleo.

Questionado sobre o assassinato de Khashoggi, MBS afirmou que estava reformando o sistema de segurança do reino para garantir que esse tipo de "erro" não acontecesse novamente.

O Irã se opõe à normalização das relações

O presidente iraniano, Ibrahim Raisi, condenou a possibilidade de normalização entre Arábia Saudita e Israel em uma coletiva de imprensa em Nova York, em 21 de setembro, segundo relatos da mídia israelense.

"A normalização entre Israel e Arábia Saudita seria uma punhalada nas costas dos palestinos", declarou Raisi.

*Com informações do 
Jerusalem Post

Postar um comentário

0 Comentários